O Fest-Aruanda chega à 10.ª edição e promete fazer bonito. A mostra de 2015 começa nessa quinta, 10, em João Pessoa, na Paraíba, com a exibição, fora de concurso, de Chatô, de Guilherme Fontes. Na sexta, 11, será realizado um esperado debate sobre o filme, reunindo o diretor, o escritor Fernando Morais e o ator Lima Duarte, além de estudiosos e cineastas, como o documentarista Vladimir Carvalho. Fontes é o diretor do filme, que levou quase 20 anos para ficar pronto. Morais, o autor do livro Chatô – o Rei do Brasil, biografia em que o longa foi baseado. Marco Ricca, que também lá estará, interpreta o personagem. E Lima? Bom, o ator conheceu muito bem o personagem, o jornalista Assis Chateaubriand, e com ele conviveu. Trabalharam juntos na TV Tupi, e, embora não esteja nem na biografia nem no filme, terá histórias saborosas para contar sobre o magnata da imprensa brasileira, o William Randolph Hearst tupiniquim. O debate será, sem dúvida, antológico.
Também na sexta começa a mostra competitiva, composta por sete longas. Invólucro, de Caroline Oliveira (PE), Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba (PR) e Travessia, de João Gabriel (BA) são os novatos que concorrem aos troféus Aruanda. O experimentado Roberto Berliner (RJ) traz Nise, o Coração da Loucura (RJ). E cineastas de longo curso do cinema brasileiro entram no páreo: Walter Lima Jr. com Através da Sombra, (RJ), Júlio Bressane com Garoto (RJ) e Walter Carvalho com Um Filme de Cinema (RJ).
O festival fecha dia 16 com a exibição de Chico, Um Artista Brasileiro, de Miguel Faria Jr., terno e estupendo documentário sobre Chico Buarque, que tem encantado as plateias de cinema nas cidades onde já estreou. Inédito em João Pessoa, dará fecho emotivo e em alto-astral para a mostra. Um tipo de clima de que, convenhamos, o País anda bem necessitado.
O foco desta 10.ª edição do Aruanda é a Paraíba. A exibição de Chatô tem tudo a ver com isso. Afinal, o personagem polêmico, o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1892-1968), é paraibano de Umbuzeiro. De lá saiu para se tornar um dos brasileiros mais influentes de sua época, fundando jornais, rádios e emissoras de TV, intervindo na política, no mundo empresarial e nas artes, através de meios nem sempre ortodoxos. Seja qual for a ideia que dele se tenha, foi um personagem e tanto. Dessa forma, cheia de paradoxos, é retratado na fascinante biografia escrita por Fernando Morais. Volta, agora, na pele de Marco Ricca, no não menos polêmico longa de Fontes. A produção respondeu a processos por prestações de contas e mau uso de dinheiro público. Dizia-se que o filme nem mesmo existia. Existe e está aí, para ser comentado, amado ou odiado.
Outra figura não menos polêmica que promete dar as caras em João Pessoa é o cantor e compositor Geraldo Vandré. Esse, todos conhecem: o Vandré que empolgou o Maracanãzinho com Pra não Dizer que Não Falei das Flores, em 1968, canção transformada em hino da resistência durante a ditadura, e que teve de se exilar para escapar à ira dos militares. Vandré que, de volta anos depois, surpreendeu a todo mundo, em especial à esquerda, com sua inesperada intimidade com a Força Aérea Brasileira. Ele, um perseguido político, voltava agora nas asas da Aeronáutica, para a qual, inclusive, compôs uma peça musical, Fabiana (em alusão à FAB). Vandré, vale dizer, é personalidade a ser resgatada (talvez até de si mesmo). Não foi apenas cantor e compositor engajado. Foi artista de grande recurso em sua veia lírica e o próprio cinema muito deve a ele. Em especial pela inspirada trilha composta para A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos. Esse, que é um dos maiores filmes do cinema nacional, não seria a mesma coisa sem a magnífica música de Vandré.
Enfim, não apenas pela qualidade da programação, mas pela dos seus convidados, o Aruanda consegue driblar as dificuldades econômicas que atingem todos os eventos culturais do País, e promete sua edição mais completa e brilhante já no crepúsculo do triste ano de 2015.
O festival, afinal de contas, tem nome a zelar. É o único em seu gênero que adota o título de um filme. Aruanda (1959-60), de Linduarte Noronha (1930-2012), é tido como precursor do Cinema Novo. Em forma de documentário ficcional, investiga a história e o cotidiano dos moradores de um quilombo na Serra do Talhado, que viviam isolados do País. Um clássico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.