Grande (principal?) vitrine do cinema autoral e independente no País, a Mostra de Tiradentes desembarca em São Paulo, no Cinesesc, trazendo os vencedores da Mostra Aurora deste ano e títulos representativos das demais seções que integraram a programação de janeiro no interior de Minas. É o quarto ano consecutivo em que ocorre a parceria do Sesc com a Universo Produção, que promove não apenas a Mostra de Tiradentes, mas também outros eventos de cinema ao longo do ano – a Mostra de Ouro Preto, CineOP, em junho, e a Mostra Cine BH, no fim do ano.
Cada uma possui um perfil. Cinema de jovens autores, de arquivo e contemporâneo, de mercado. A Mostra de Tiradentes realizou este ano sua 19.ª edição. Traz a São Paulo, a partir desta quarta, 16, quinta, 17, (e até dia 23) 37 filmes – 20 longas, 16 curtas e um média. Serão exibidos em 25 sessões. Raquel Hallak, da Universo, destaca a importância de dar vez e voz a um cinema sem espaço. E destaca – “Estaremos apresentando todos os filmes da Mostra Aurora, antecedidos de apresentação pelos autores e seguidos de bate-papo com o público. Nas edições anteriores, ocupamos três faixas de horário no Cinesesc. Desta vez, estaremos nas quatro. A novidade é que vamos apresentar também os filmes da homenagem a Andrea Tonacci.”
Raquel acrescenta que haverá um seminário sobre o tema da 19.ª edição – espaços em conflito. “O curador Cleber Eduardo vai debater com autores e estudiosos, incluindo Thiago B. Mendonça, que venceu a Mostra Aurora deste ano com Jovens Infelizes ou Um Homem Que Grita Não É Um Urso Que Dança. O Thiago é paulista e o foco do nosso seminário em São Paulo estará justamente na cena paulista, que é muito forte e este ano esteve muito bem representada em Tiradentes.” O longa de Mendonça aborda a relação entre teatro e cinema por meio de um grupo que faz de sua arte uma forma de militância política. A Mostra Espaços em Conflito, sintonizada com a proposta conceitual da Mostra de Tiradentes, vai exibir títulos que integraram diferentes seções do evento em Minas.
Urutau, de Bernardo Cancella Nabuco, passou na Mostra Foco. É a versão, digamos, hard de O Quarto de Jack. Enquanto o longa norte-americano de Lenny Abrahamson trata seu tema forte de uma forma palatável para o público – e não foi por outro motivo que The Room foi para o Oscar, vencendo o prêmio de atriz para Brie Larsen -, a versão brasileira é muito mais intensa (e árdua). O protagonista é um garoto que foi sequestrado e é mantido em cárcere privado por um homem que abusa dele. Estabelece-se uma relação de dominador e dominado, com cenas de sexo quase explícitas, mas o jogo sofre reviravoltas inesperadas. O garoto possui suas artimanhas para subverter a ordem do cárcere. E ambos, dominador e dominado, são presas dos grilhões do afeto.
E não se pode esquecer de Andrea Tonacci. Completam-se dez anos de Serras da Desordem, que virou um marco do moderno documentário brasileiro (nas bordas da ficção). A odisseia de Carapiru, que sobrevive à chacina de sua tribo e deambula, solitário e incompreendido, pelo Brasil, é a expressão do tema espaços em conflito. Carapiru talvez seja o próprio Tonacci, um autor seminal do cinema dito marginal. Dele, o público poderá rever também Bang-Bang, Já Visto Jamais Visto e o curta Blá-Blá-Blá.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.