Um movimento de pais de alunos e ex-estudantes de colégios de elite de São Paulo, como Santa Cruz e Vera Cruz, em prol da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência gerou bate-boca na porta da escola e confusão em grupos de WhatsApp.
Desde a semana passada, o grupo passou a ficar diariamente em uma praça na frente dos colégios para conversar com pais e funcionários sobre a opção de voto. Eles vestiam branco e não distribuíram nenhum material com referência a Lula. Nesta semana, um vídeo com um pai do Santa Cruz acusando o grupo de "doutrinar crianças" se espalhou nas redes sociais.
No vídeo, um pai – o empresário Marcos Pastore – se aproxima do grupo na saída da escola e diz: "Não venha mais aqui falar de política". Em seguida completa: "Eu não falo com bandido, se você acha que o Lula não é, você fala na sua casa, não para os meus filhos".
Uma das organizadoras do movimento, a advogada e mãe de três alunos do Santa Cruz, Ana Cecília Vidigal disse que o caso foi pontual e que na maior parte do tempo não houve agressões ou conflitos com o grupo que estava na praça na frente da escola. "Não abordamos ninguém, estávamos ali para quem quisesse conversar." Segundo ela, o grupo só conversou com adolescentes que tinham idade para votar – acima de 16 anos -, pais e funcionários.
Após o incidente, houve distribuição de adesivos de Jair Bolsonaro (PL) na porta do Santa Cruz, algo que não tinha ocorrido até então. Não há informações de quem organizou o ato.
A direção do Colégio Santa Cruz, em Pinheiros, cuja mensalidade supera R$ 4 mil, não quis se manifestar. A escola não tem ligação com o grupo. Anteontem, um movimento chamado "Frente Ampla pela Democracia, pela Paz e pela Vida, com Lula e Haddad" divulgou nota em que diz que "longe de querer doutrinar pessoas, o propósito é contribuir com um debate respeitoso".
<b>Divisão</b>
O assunto dominou os grupos de pais do Santa Cruz durante a semana, com opiniões favoráveis e contrárias ao grupo e também à reclamação de Pastore. Segundo pais que discordam do movimento de frente ampla, e que não quiseram se identificar, o grupo levou bolos de chocolate e sugeriu que os adolescentes assistissem a vídeos do Felipe Neto, youtuber que declarou apoio a Lula. Alguns deles sustentam que se trata de um "crime" falar com adolescentes na porta da escola sobre política. No vídeo, Pastore afirma que chamaria a polícia, algo que acabou não fazendo.
Para a professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP), especialista em Direito à Educação, Nina Ranieri, não há crime no ato realizado pelos pais na praça próxima ao colégio. "Em um país democrático, não é crime manifestar sua preferência política em um espaço público."
Para a cientista política e pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público da FGV Debora Thomé, não há como evitar o tema da política entre jovens e crianças "quando pais e todo o entorno só falam sobre isso".
A publicitária Ana Paula Cassettari Musa, mãe de dois filhos no Santa Cruz, disse que não acredita que seus filhos seriam "catequizados" por receber opiniões de quem quer que seja. Mas que considera "desnecessário pais e ex-alunos envolverem o nome de um colégio para fazer panfletagem partidária". "Se autodenominar frente ampla no Santa, dando a impressão de que todos da instituição partilham dos mesmos princípios, não soa exatamente democrático. Acredito que isso gerou reação de alguns pais."
Na frente do colégio Vera Cruz, na zona oeste, também houve atuação de pais com o mesmo objetivo, mas não há relatos de confusões. Pais e mães de outros colégios particulares da região, como Oswald de Andrade e Equipe, também fazem parte do movimento.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>