O Ministério Público (MP) pediu que a Corregedoria da Polícia Militar realize novas diligências no âmbito da investigação das mortes de nove jovens em um baile funk de Paraisópolis. O órgão da PM havia encerrado o inquérito sem apontar culpa para os agentes que atuaram na comunidade da zona sul de São Paulo em dezembro do ano passado, quando as vítimas morreram pisoteadas. O novo pedido, no entanto, não teria por objetivo esclarecer a responsabilidade dos policiais, mas, sim, entender o processo de organização do evento.
As informações foram antecipadas pela <i>Folha de S. Paulo</i> e confirmadas pelo jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>. Os pedidos foram feitos pelo promotor Edson Correa Batista e direcionados à Corregedoria. Após receber o inquérito concluído, Batista poderia oferecer denúncia criminal, caso encontrasse elementos, encaminhar o arquivamento ou solicitar novas diligências complementares à PM, o que ocorreu.
As diligências significam que a corporação terá de apresentar respostas a questões levantadas pelo promotor e ir a campo, se necessário, para obter, por exemplo, novas imagens de circuitos de segurança da região.
Batista pede que seja juntado ao inquérito atas de reuniões do Conselho de Segurança Comunitária (Conseg) do bairro. Segundo a <i>Folha</i>, a medida pretende "identificar os seus participantes, bem como a temática discutida em tais encontros, notadamente a questão envolvendo a aglomeração de pessoas em via pública durante os chamados bailes funk". O promotor quer saber se o evento do baile da Dz7 havia sido autorizado por alguma autoridade municipal ou pela polícia.
Além do inquérito que retornará à Corregedoria, a Polícia Civil também conduz uma apuração sobre as mortes que ainda não foi concluída. As mortes aconteceram na madrugada de 1º de dezembro após uma operação policial em Paraisópolis.
As versões divergem: a polícia disse que iniciou uma perseguição após ser alvo de disparos de criminosos, que entraram no baile causando confusão e correria; participantes do baile disseram que a polícia atuou de forma irresponsável ao fechar ambas as saídas da rua principal, levando as pessoas a buscarem vielas do local. As mortes por pisoteamento aconteceram em duas dessas vielas.
Ao <b>Estado</b> em dezembro, uma jovem que estava em uma dessas vielas disse que a polícia chegou a atirar bombas nesses locais, piorando a confusão. Ao sair de lá, ela relatou ainda ter sido atingida no rosto por uma garrafa de vidro atirada por um policial. A jovem tomou 50 pontos em decorrência dos ferimentos causados.
O ex-ouvidor da polícia Benedito Mariano discorda da conclusão da Corregedoria. "Minha visão do que aconteceu é totalmente diferente da conclusão da Corregedoria. Foi uma ocorrência sobretudo improvisada e precipitada e que tem relação, mesmo que indireta, com o resultado final trágico", disse. Mariano, apesar de ocupar o primeiro lugar da lista tríplice, não foi reconduzido ao cargo pelo governador João Doria (PSDB).
Mariano estava analisando as mais de mil páginas do inquérito da Polícia Civil e confrontando os procedimentos com as previsões do manual de controle de multidões da PM. O ex-ouvidor disse ver descumprimento de ao menos dois pontos previstos no protocolo. "Não se planeja uma ação como essa em 10 ou 15 minutos. E não se levou em conta a garantia para amplas rotas de dispersão. O meu relatório iria apontar que, tecnicamente, houve erro operacional", acrescentou ele.