Estadão

Márcio França se irrita com reforma ministerial, abre crise no PSB e Lula pede ajuda a Alckmin

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de Silva de acomodar um partido do Centrão no Ministério de Portos e Aeroportos provocou uma crise no PSB. Diante da contrariedade do ministro Márcio França, atual titular da pasta, Lula pediu ao vice Geraldo Alckmin para resolver o impasse com o aliado antes da reunião do PSB com ele, nesta terça-feira, 5. O presidente quer definir a situação do partido na Esplanada nas próximas horas.

França não escondeu a irritação com o aviso prévio e disse, em conversa a portas fechadas, que preferia deixar o governo a assumir o novo ministério da Pequena e Média Empresa, anunciado por Lula na semana passada. Ao que tudo indica, porém, essa 38.ª pasta não sairá do papel, ao menos por enquanto, porque nem França nem o Centrão estão interessados nela.

Lula já acertou a entrega do Ministério de Portos e Aeroportos para o deputado Sílvio Costa Filho, vice-presidente do Republicanos, partido que integra o Centrão. Pernambucano, Costa Filho é aliado de Lula, mas a maior parte do Republicanos apoiou a frustrada tentativa do então presidente Jair Bolsonaro (PL) de se reeleger.

Para fechar a reforma ministerial, Lula depende, agora, de um acerto com França, justamente o homem que ajudou a aproximá-lo de Alckmin, no ano passado. À época, a chapa dos dois históricos adversários políticos ficou conhecida como Lula com Chuchu, apelido de Alckmin. França também desistiu da disputa ao Palácio dos Bandeirantes, a pedido de Lula, e emplacou sua mulher, Lúcia, como vice na chapa de Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda.

<b>Dobradinha</b>

Em 2014, o atual ministro de Portos e Aeroportos foi eleito vice-governador de São Paulo em dobradinha com Alckmin. França se tornou governador por alguns meses, em 2018, quando o então tucano renunciou para concorrer à Presidência. Tentou se reeleger ao Palácio dos Bandeirantes, mas perdeu para João Doria.

Alckmin, por sua vez, amargou o quarto lugar na disputa pelo Planalto, mostrando o pior desempenho da história do PSDB. Quatro anos depois, ele deixou o partido ao qual estava filiado há mais de três décadas, migrou para o PSB e se aliou ao PT que tanto criticou.

O objetivo de França, atualmente, é concorrer ao governo de São Paulo, em 2026. Com esse plano na cabeça, o ministro não se conforma com a equação política montada por Lula para entregar a um deputado do Republicanos o Ministério de Portos e Aeroportos.

Embora Sílvio Costa Filho seja simpático ao Planalto, o Republicanos é justamente o partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bolsonarista e adversário de Lula. Tarcísio avalia que a privatização do porto de Santos foi barrada por interesses políticos e classifica França, ex-prefeito de São Vicente, como um dos responsáveis por dificultar essas negociações.

<b>Xadrez</b>

Alckmin não quer ver o aliado fora do governo e tentará encontrar uma solução conjunta com ele, antes da conversa com Lula. O vice é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e há quem diga no PSB que ele poderá até mesmo abrir mão da pasta sob sua alçada para oferecer ao amigo. Uma outra possibilidade nesse xadrez é transferir França para o Ministério da Ciência e Tecnologia, ocupado por Luciana Santos (PC do B).

O arranjo provocaria, no entanto, a saída de mais uma mulher do primeiro escalão. Para Luciana ser realocada no Ministério da Mulher, por exemplo – uma das opções cogitadas -, a atual titular da pasta, Cida Gonçalves, teria de ser defenestrada.

Disposto a desalojar seus escolhidos para ter votos do Centrão no Congresso, Lula já acertou, porém, a entrega do Ministério do Esporte, comandado por Ana Moser, para o deputado André Fufuca (PP-MA), ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Moser não tem filiação partidária e está na chamada "cota pessoal" de Lula na Esplanada.

A ideia é que o ministério seja "turbinado" com o dinheiro da taxação de apostas esportivas. A estimativa do governo é a de arrecadar até R$ 12 bilhões por ano, quando o mercado estiver totalmente regulamentado. A Medida Provisória que prevê essa cobrança deve ser aprovada em breve no Congresso.

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