Estadão

Música estimula circuito do prazer cerebral como a comida e o sexo

Nesta quinta-feira, 8, uma série de shows promete marcar, em grande estilo, a segunda e última semana do Rock In Rio. A banda norte-americana Guns N Roses, por exemplo, estrela desta noite, dará o start no festival que tem levado o público ao delírio com toda a sua programação. Tem estilos musicais para todos os gostos, que fazem os fãs da boa música dançarem, cantarem e se emocionarem; promovendo bem-estar à saúde mental. Não é à toa que já foi comprovado cientificamente o poder das notas musicais no nosso corpo.

A médica psiquiatra Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, lembra que pesquisadores da Queens University Belfast, na Irlanda do Norte, descobriram que a terapia com música reduz drasticamente a depressão em crianças e adolescentes, por exemplo. "Isso acontece porque a música libera dopamina no cérebro e causa a sensação de bem-estar, alivia cansaços e tensões do dia, é uma forte aliada nos mais diversos tratamentos", destaca.

"Os acordes ainda estimulam o circuito do prazer cerebral, o chamado sistema de recompensa, que processa a informação relacionada à sensação de prazer ou de satisfação, tal como a comida, o sexo ou as drogas. Os estímulos provocados dependem do circuito cerebral subcortical do sistema límbico, formado por estruturas cerebrais que fazem a gestão das respostas fisiológicas aos estímulos emocionais", completa a especialista.

De acordo com Jéssica, as terapias com música ocasionam redução significativa da depressão e melhora nas habilidades de comunicação e interação além de aumentarem a criatividade e diminuir o estresse.

Todo esse processamento começa com a penetração das vibrações sonoras no ouvido interno, provocando movimentos nas células ciliares que variam de acordo com a frequência das ondas. Os estímulos sonoros seguem pelo nervo auditivo até o lobo temporal, onde se dá a senso-percepção musical: é nesse estágio que são decodificados altura, timbre, contorno e ritmo do som.

Ainda segundo a psiquiatra, o lobo temporal conecta-se em circuitos de ida e volta com o hipocampo, uma das áreas ligadas à memória, o cerebelo e a amígdala – áreas responsáveis pela regulação motora e emocional e à sensação de bem-estar gerada pela música.

"Os benefícios ainda vão além e podem ajudar a ampliar e facilitar a aprendizagem do jovem que escuta música ao estudar, por exemplo. Os sons podem favorecer muito o desenvolvimento cognitivo e sensitivo, envolvendo o aluno de tal forma que ele realmente cristalize na memória uma situação", finaliza a médica.

Mesmo para quem diz não ser muito conectado à música e estilos musicais, percebe que em alguns momentos a música e os sons evocam memórias e pensamentos, comunicam, provocam sensações, emocionam e movimentam. "Quando começamos a ouvir um som ou uma música, as ondas de rádio que são emitidas por um instrumento, fazem com que nossos tímpanos se movimentem. Esse movimento é traduzido em uma cadeia de sinais no nosso cérebro que atingem o córtex auditivo e, a partir daí, aquele som é analisado em relação ao ritmo, volume, timbre, harmonia, localização espacial e ressonância. É como se as áreas do cérebro iniciassem uma conversa e organizassem aquela experiência sonora", ressalta a psicóloga Bruna Capozzi.

Ao passo que isso acontece, outras áreas do cérebro também são ativadas: movimento, memória, atenção, emoção, segundo a especialista. "Isso explica porque algumas músicas nos trazem calma, vontade de dançar, tristeza e alegria, entre outras emoções. Nesse sentido, vale ressaltar que a música apresenta a capacidade de criar e recuperar memórias dentro do cérebro humano e isso pode mudar o nosso humor, tanto para ficar mais alegre, quanto para nos deixar mais reflexivos e até tristes", diz.

"Além disso, a música adequada pode ajudar no foco e na produtividade ao realizar uma atividades, pode ajudar a acalmar e adormecer e pode acessar memórias importantes da nossa vida: nos fazendo sorrir, chorar, ficar com raiva ao lembrar de vivências passadas", conclui Bruna.

Posso ajudar?