A modernização das regras do setor de saneamento básico, aprovado ontem no Senado Federal, tem chamado a atenção até de empresas que nunca atuaram no setor. Companhias como CCR (concessões de transporte), Equatorial (energia) e o fundo Vinci Partners são alguns dos investidores que estão de olho no potencial de negócios decorrentes da falta de serviços básicos e da ineficiência da estrutura atual.
Para universalizar os serviços de água e esgoto, o País precisará investir entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões nos próximos anos. "Há uma carência muito grande de investimentos e de capacidade de gestão das companhias. Sabemos atuar para resolver essas questões", diz o sócio da gestora de recursos Vinci Partners, José Guilherme Souza, referindo-se ao trabalho feito na Equatorial, no passado.
Ele conta que o fundo tem interesse em todos os modelos de negócios, seja Parceria Público-Privada (PPP), concessões ou privatizações. "O importante é entrar num ativo que tenha escala. Por isso, a regra de criação de blocos é um dos pontos mais interessantes do novo marco regulatório." Souza vê com naturalidade empresas de concessões que atuam em outras áreas se interessarem pelo setor, pois há similaridade e tratam diretamente com o consumidor.
A CCR, por exemplo, começou com concessões rodoviárias, expandiu para aeroportos e mobilidade urbana. Agora quer avaliar o setor de saneamento. Em nota, o grupo afirmou que está sempre atento a oportunidades de negócios no mercado brasileiro e internacional. "A empresa acompanha a evolução das discussões do novo marco regulatório e poderá avaliar no futuro eventuais projetos no setor."
Segundo fontes do mercado, a companhia de energia Equatorial também planeja avaliar negócios no setor. Procurada, a empresa não quis comentar sobre o assunto, mas um indício do interesse é que o presidente do grupo participará de um painel sobre abertura do mercado de saneamento no Brasil, promovido pelo BNDES.
<b>Nacionais e estrangeiros</b>
O sócio da BF Capital, Renato Sucupira, afirma que vários investidores nacionais e internacionais estão se movimentando e se preparando para participar dos leilões que virão no setor. Ele acredita que o efeito será imediato à aprovação do marco regulatório. "Há muitas oportunidades no segmento, que tem 90% dos serviços nas mãos do setor público."
Um levantamento feito pela consultoria Ernst & Young (EY) e da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) dá uma noção de como o setor ganhou relevância para os investidores nos últimos meses. Para quase 65% dos entrevistados, o setor é o que mais tem potencial (de investimento) hoje no Brasil. "Com o novo marco regulatório, o País vai virar uma chave que permite a entrada de novos atores na área", afirma Gustavo Gusmão, diretor executivo para o setor público e infraestrutura da EY.
Outros investidores tradicionais, como o fundo Pátria, também devem avaliar projetos no setor. A gestora de recursos tem uma empresa de tratamento de água e efluentes e, agora, com as novas regras, tem interesse em avaliar os leilões públicos de saneamento. Na avaliação de especialistas, a expectativa é que haja no segmento um fenômeno parecido com o que ocorreu nas concessões rodoviárias nos últimos anos, que atraíram investidores do mundo todo.
Hoje a participação privada no saneamento básico é pequena. Em dez anos, essa fatia saiu de 3,89% para cerca de 6% das cidades brasileiras. A previsão é aumentar a velocidade de entrada da iniciativa privada no setor. "A legislação tenta criar uma lógica de boas práticas que permitam que os investidores tenham condições de colocar dinheiro no setor com riscos controlados", afirma Bruno Aurelio, sócio especializado do setor de infraestrutura do escritório Demarest.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>