Estadão

Mulher de Zelaya tenta levar esquerda de volta ao poder em Honduras

Doze anos depois de ter sido expulsa do palácio presidencial de pijamas e sob a mira de fuzis, a família Zelaya pode voltar ao poder hoje em Honduras, em uma eleição marcada por temores de violência política, e a lembrança de uma fraude eleitoral na votação para presidente em 2017.

Analistas preveem uma disputa apertada entre Xiomara Castro, mulher do ex-presidente, e o candidato do Partido Nacional, o prefeito de Tegucigalpa, Nasri Asfura, apesar de a última sondagem, publicada em outubro, dar ampla vantagem à ex-primeira-dama. Se vencer, ela se tornará a primeira mulher a presidir Honduras.

De acordo com o levantamento, Xiomara tem 38% das intenções de voto, ante 21% de Asfura. "As pesquisas indicam que Xiomara tem boas chances de vencer. Mas, se a disputa for apertada, há possibilidade de o Partido Nacional fraudar ou manipular o resultado", disse ao Estadão Maureen Meyer, vice-presidente de programas para Direitos Humanos do Washington Office on Latin America (Wola).

"As reformas eleitorais deste ano foram muito tímidas, o que aumentou a preocupação sobre a lisura da eleição. O monitoramento da OEA e da União Europeia será importante, mas a desconfiança da população pode levar à violência", afirmou Meyer.

Os anos no poder do Partido Nacional contribuíram para o enfraquecimento das já combalidas instituições democráticas hondurenhas. Nos dois mandatos do atual presidente, Juan Orlando Hernández, e de seu antecessor, Porfírio Lobo, cresceram as denúncias de corrupção e de vínculo de autoridades com o narcotráfico.

O irmão de Hernández – Tony – responde a um processo nos EUA por tráfico de cocaína, no qual o presidente também é suspeito. Segundo testemunhas do julgamento de Tony, em Nova York, Juan Orlando teria dado uma força na carreira criminal de Tony.

<b>FRAUDE</b>

A reeleição de Juan Orlando, em 2017, mostra o poder do Partido Nacional em Honduras. A Constituição hondurenha, de 1982, vedava terminantemente um novo mandato. Em 2009, quando Zelaya anunciou que pretendia mudá-la, acabou preso e enviado para a Costa Rica, sob a acusação de "desobediência constitucional".

Mas, com Hernández, as coisas foram diferentes – e a Justiça liberou a reeleição. Na madrugada da apuração, no entanto, ele perdia para o opositor Salvador Nasralla, mas um apagão interrompeu a contagem. Na volta, para a surpresa geral, o presidente havia sido reeleito. Desta vez, observadores internacionais prometem avaliar de perto a votação. "O golpe de 2009 enfraqueceu a democracia e a situação piorou depois da reeleição de Hernández", afirmou Meyer.

As denúncias de corrupção e a impopularidade de Hernández impediram que ele tentasse alterar as regras mais uma vez. Recentemente, ele se comprometeu a entregar o cargo em janeiro, aconteça o que acontecer na eleição de hoje. Pressionado, Asfura, candidato do Partido Nacional, tentou se distanciar do presidente. "Nunca toquei no dinheiro do imposto de vocês", disse em um discurso na TV local.

<b>É A ECONOMIA</b>

A crise econômica levou milhares de hondurenhos a se lançarem na perigosa rota para os Estados Unidos. Em 2020, pelo menos 20 mil deixaram o país. "Honduras tem um dos índices mais altos de pobreza e desigualdade da América Latina e a pandemia e desastres naturais pioraram isso", lembra Meyer. "Mudança política, reformas econômicas e o combate à corrupção e ao narcotráfico podem mudar isso."

Para destronar o Partido Nacional, Xiomara, que pela terceira vez tenta a presidência, unificou a oposição e moderou o discurso, aproximando-se do empresariado, prometendo políticas sociais sem afugentar investidores. "Após anos marcados por corrupção e criminalidade, a maioria dos hondurenhos está descontente", disse Michael Shifter, do grupo Diálogo Interamericano. "Mas não se pode subestimar a máquina do Partido Nacional e a aversão de alguns setores da economia a Xiomara."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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