Mundo das Palavras

MULHERES ANTIGAS

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra

            As mães das jovens de hoje pertencem a uma geração que se transformou numa barreira alta e consistente entre dois tipos muito diferentes de mulheres: as que viveram antes destas mães – portanto as avós de hoje-, e, aquelas geradas por elas – as netas atuais.

            As mães das mães destas jovens eram submetidas a um rígido controle comportamental, sustentado pela Igreja, pela sociedade e por sua própria família. Elas tinham de ser mantidas “puras”, até atingirem o maior – e muitas vezes o único – objetivo a que estavam predestinadas: o casamento.

            E manter a “pureza” exigia muito controle porque significava impor a privação das satisfações dos impulsos naturais de uma sexualidade vigorosa, própria da juventude. A virgindade, assim como a fidelidade feminina, eram preservadas a qualquer custo porque se constituíam nas únicas garantidas, antes do surgimento dos exames de DNA, dadas ao marido de que eram deles os filhos gerados pela sua esposa. Acreditava-se que ele tinha direito a esta garantia porque lhe cabia sustentar sua mulher pelo resto da vida dela, pois, impedida de se se profissionalizar, ela nunca teria renda própria.

            Muitas outras imposições integravam o esforço de manutenção da “pureza”. O veto ao ensino superior era um deles. Exatamente ao nível de ensino que poderia dar maior autonomia às jovens. Pois, importante era que as mulheres aprendessem as chamadas “prendas domésticas”. Mais que isto, quando muito, uma iniciação amadora ao piano.

            Manter a “pureza” também importava em desconforto térmico, pois era necessário esconder todos os atrativos físicos femininos debaixo de muitos panos, nas temperaturas em geral elevadas do nosso país. Para isto existiam peças íntimas do vestuário feminino que as jovens, hoje, possivelmente nunca tenham visto. Como a combinação, uma espécie de vestido de alça, sem manga, usada por debaixo do outro vestido, exibido publicamente, com a finalidade aparente de dissimular as alças do sutiã. Assim como as anáguas, saias de tecido em geral claro, para uso sob a saia que todos viam. Sim, anáguas, no plural. Pois as jovens  usavam vários destes acessórios, ao mesmo tempo.  

            Era, assim, estreito e incômodo o espaço social em que podia se mover uma jovem, à espera do casamento. Algum rapaz teria de escolhê-la como esposa. Para que isto pudesse ocorrer era necessário que pelo menos ela frequentasse alguns bailes onde pudesse achar o futuro marido.  Neles elas podiam flertar com os rapazes. E, sobretudo dançar coladas, oportunidade única de desfrutar de um tipo de intimidade física com vários homens. Elas, é claro, adoravam dançar assim.

            Mas, pobres delas, se demorasse a arranjar marido. Se chegassem sós aos trinta anos estariam excluídas do mercado matrimonial. Rejeitadas – com uma idade menor que a da deusa das telenovelas de hoje, Cléo Pires -, seriam consoladas pela letra certeira de uma música de Luiz Antônio, sucesso em 1960, na voz de Miltinho: ”Você, mulher que já viveu, que já sofreu, não minta. Um triste adeus nos olhos seus, a gente vê: Mulher de Trinta”.

             

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