A pandemia não trouxe somente notícias ruins quando o assunto é trabalho feminino. No grupo das empresas de médio porte, as mulheres conquistaram mais cargos de gestão e passaram a representar 39% dos executivos com poder de decisão, segundo o Women in Business 2021, pesquisa realizada anualmente pela Grant Thornton. É o segundo ano de crescimento do indicador. De 2019 para cá, o salto foi de dez pontos porcentuais. No levantamento de 2020, o porcentual era de 34%.
Com esse ganho, o Brasil subiu da oitava para a terceira posição no ranking dos países pesquisados pela consultoria em participação feminina em postos de liderança, como aponta o International Business Report. Na lista, o País está empatado com a Índia e atrás apenas das Filipinas (48%) e África do Sul (43%).
No Brasil, as mulheres são mais numerosas em cargos de gestão nas áreas de RH (43%) e CFO (43%). Ocupam poucas cadeiras como CIO (28%) ou como diretoras comerciais (25%). Como CEOs de empresas de médio porte, elas conquistaram mais vagas. Segundo o relatório de 2021, ocupavam 36% desses postos, bem acima da média global que foi de 26%. No estudo de 2020, eram 32%. E no anterior, 27%.
O retrato, no entanto, é bem diferente quando se observa um grupo pequeno (78 companhias de capital aberto) mas com alta exposição e relevância no mercado de ações brasileiro. Das 78 empresas que compõem o Ibovespa, principal índice acionário no Brasil, nenhuma tinha uma presidente executiva mulher, segundo levantamento feito pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. De todas essas grandes companhias, apenas três tinham uma conselheira na cadeira de presidente do Conselho de Administração.
A pesquisa também mostrou as práticas adotadas para reduzir a disparidade de gênero em níveis mais seniores. No Brasil, 29% dos entrevistados afirmaram que estabelecem metas ou cotas para o equilíbrio de gênero nos níveis de liderança, mesmo índice da média global e 11 pontos porcentuais acima do registrado em 2020 (18%) no País. De todos entrevistados, 25% afirmaram que a recompensa da alta administração é vinculada ao progresso nas metas de equilíbrio de gênero.
Boas práticas e políticas de carreira devem continuar avançando, na avaliação de Élica Martins, sócia da Grant Thornton Brasil. "O aumento da participação das mulheres em postos de comando vem ocorrendo de forma voluntária, pois não está atrelado a cotas ou a obrigações legais, como em alguns países. É um fato muito representativo", diz Martins. "Houve avanço, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido", completa a sócia da consultoria.
A pesquisa da Grant Thornton entrevistou 5.000 executivos em 29 países entre outubro e dezembro. No Brasil, foram entrevistados gestores de 250 empresas com faturamento entre R$ 5 milhões e R$ 300 milhões.
De forma mais ampla, a crise econômica, potencializada pelo isolamento social necessário para conter a covid-19, prejudicou mais as mulheres, como mostram dados do Brasil e o estudo Women in Work 2021 da PwC.