Estadão

Mulheres criam startups focadas em reter mães no mercado

A permanência no mercado de trabalho se tornou incerto para Dani Junco, de 41 anos, quando ela descobriu que estava grávida, em 2015. Acostumada a atuar na área de marketing em multinacionais farmacêuticas, a dificuldade de prosseguir na carreira sendo mãe a fez conversar com quase 100 mulheres na mesma situação e perceber que sua dor era coletiva.

A conclusão foi que, de fato, o ambiente corporativo descartava com mais facilidade as mulheres com filhos. Mas sua experiência profissional poderia <b>oferecer àquelas mães duas soluções: promover recolocação em empregos formais ou orientar as que precisavam empreender para recomeçar.

Pensando nisso, Dani criou a B2Mamy, espaço de inovação e aceleração, sediado em </b>São Paulo, com foco em formar mães e mulheres em geral para a autonomia financeira. Movimentando mais de R$16 milhões desde 2016, cerca de 50 mil pessoas já participaram dos programas de capacitação da empresa. Para chegar a esse ponto, porém, a gestora precisou driblar o descrédito inicial de investidores que não apostavam na startup. "Me disseram que entre ser mãe e CEO, eu tinha de escolher uma coisa ou outra", lembra.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 41% das mulheres empregadas com carteira assinada no País ficam fora do mercado 12 meses depois de se tornarem mães. Após 4 anos, o índice sobe para 50%. Dentre as desempregadas, são predominantes as que têm nível educacional mais baixo, pois, conforme Cecília Machado, coautora da pesquisa, são consideradas facilmente substituíveis pelo mercado. Para muitas mulheres, resta a interrupção da carreira ou a migração para o trabalho informal, diz a pesquisadora.

Já para profissionais homens, a chegada de um filho não tem o mesmo peso negativo. "Normas sociais e culturais delegam às mulheres atividades relacionadas ao cuidado da família. Por isso, há ampla evidência de que as trajetórias profissionais de homens e mulheres começam a divergir de forma evidente com a maternidade", diz Cecília.

<b>INSTABILIDADE.</b> Empresa de impacto social, a Maternativa também nasceu da dor de suas fundadoras, Ana Castro e Camila Conti, que perderam os trabalhos durante a gravidez. O que era, há 7 anos, um grupo de apoio numa comunidade no Facebook virou uma rede com 28 mil mães, de 60 países, focada no universo da maternidade e do trabalho. Vivian Abukater, de 42 anos, sócia-diretora do negócio, diz que a atuação da empresa abarca apoio para mães nas diversas modalidades de trabalho, formações para empresas e atividades em prol da divisão justa do trabalho doméstico.

Dentre as iniciativas, o site Compre das Mães é destaque. A plataforma de produtos e serviços foi lançada em 2020 e reúne 3,5 mil mulheres cadastradas gratuitamente. Com mais de 3,5 milhões de acessos, o portal permite ao usuário localizar a mãe empreendedora mais próxima de sua residência. Já no mundo corporativo, o trabalho é lidar com os obstáculos para a retenção de mães nas corporações. "Encontramos facilidade de entrar em grandes empresas, com políticas de diversidade e inclusão, mas a economia brasileira está pautada nas pequenas e médias. Nelas, ainda é preciso fazer um grande trabalho de conscientização" afirma Vivian.

Com dois filhos, Michelle Terni, de 36 anos, passou por um período de inquietação sobre como conciliar maternidade e carreira, e acabou entrando para as estatísticas ao sair do mercado após ser mãe. Ao pesquisar sobre as motivações por trás disso, percebeu na situação uma oportunidade de negócio e resolveu, junto com sua sócia Camila Antunes, criar a consultoria Filhos no Currículo. O foco é ajudar as organizações a formatar um ambiente que atraia, acolha e impulsione a carreira de profissionais com filhos. Mais de 300 empresas já foram orientadas com estratégias voltadas para a parentalidade.

Para Michelle, o grande desafio das corporações é fazer com que o trabalho de conscientização seja sustentável no tempo e resulte em políticas concretas. Além disso, filhos devem ser encarados pelas empresas como impulso para o desenvolvimento de carreiras, e não o contrário. "É no exercício diário da criação de uma criança que nós somos convidados a desenvolver uma série de habilidades. A diferença é encontrar um ambiente de trabalho que impulsione essa transformação", diz.

<b>MUDANÇA.</b> Uma alteração profunda no cenário exige um conjunto de iniciativas, diz Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360. Ela lista como fundamentais a inclusão de jornada de trabalho flexível, licença-maternidade estendida, auxílio-creche, sala de amamentação, além de iniciativas de cuidado para as mães.

Estas ações, diz Margareth, exigem uma mudança de cultura. Para que as empresas não dispensem ou deixem escapar profissionais por causa da maternidade, é essencial que elas estejam abertas para soluções de mercado especializadas, defende

Cenário difícil Segundo a FGV, 41% das mulheres empregadas ficam fora do mercado um ano após serem mães

a especialista. Nesse sentido, negócios voltados para promover a retenção de mães nos empregos podem auxiliar nas ações internas do ambiente corporativo. "O que a gente observa é uma correlação direta entre empresas que têm um trabalho estruturado, com apoio de uma consultoria externa, e melhores resultados de retenção e desenvolvimento de mulheres nas empresas. É um fato que acaba mostrando como é importante o apoio dessas soluções de mercado", afirma a gestora.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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