Erta, Daniela e Marisa são três mulheres guarulhenses que estão batalhando para vencer a depressão e a ansiedade. Além das lutas pessoais diárias, elas têm outro ponto em comum: o amor pelo artesanato, que afirmam ser de grande ajuda no combate aos sintomas pesados que essas doenças podem apresentar. Todas elas trabalham hoje com a comercialização dos seus produtos artesanais na Feira da Economia Solidária, programa da Prefeitura de Guarulhos que incentiva a geração de renda por meio de produções manuais. Com histórias diferentes, mas cercadas de amor, dedicação e vontade de melhorar, as três usam o artesanato e as oportunidades que ele oferece, mesmo que indiretamente, para trabalhar a cura.
“O artesanato para mim é uma terapia”. Essa é a definição de Erta Maria de Andrade, 51, para o oficio que desempenha com tanto carinho. Ela tem uma história antiga com o artesanato, mais de 15 anos, mas antigamente era apenas um passatempo. Quando a pandemia começou, também começaram os sintomas. “Eu nunca tinha tido crises de ansiedade e depressão antes. Cheguei a ir ao hospital passando muito mal e estou em tratamento até hoje”, conta. Em uma das consultas sua médica a orientou a fazer algo que sentisse prazer. O artesanato veio à mente, mas ela descartou a possibilidade naquele momento, pois não tinha onde vender suas bijuterias customizadas. Em outubro de 2021 , contudo, ela conheceu a Feira da Economia Solidária. “No final do ano passado eu sentia que o artesanato havia mudado muito o meu quadro e já não tenho mais crises de ansiedade. Quando estou produzindo sinto calma, paz de espírito e uma enorme satisfação. Depois que eu entrei (na economia solidária) foi uma válvula de escape”, conta.
Já a história de Daniela Pereira, 48, envolve um trauma físico, causado por um atropelamento do qual foi vítima em 2010. Por orientações médicas ela teve de permanecer três meses acamada, priorizando sua recuperação. Ela, que tinha uma vida agitada, viu-se paralisada. “O que me ajudou a sair daquela situação, da depressão causada pelo acidente, foi o artesanato”, afirma. “Enquanto estava na cama fazia crochê para distrair e percebi que aquilo me fazia bem. Quando voltei a andar comecei a fazer capelinhas de cartonagem e levava, como doação, para a minha paróquia para ser vendida e a arrecadar dinheiro para a igreja. Depois disso não parei mais de fazer artesanato; quanto mais fazia, mais me sentia bem”, completa. Hoje a venda dos artesanatos em MDF, a costura criativa e a pintura em tecido são suas únicas fontes de renda. “Apesar de ser formada em biologia e ter atuado na área, não troco meu trabalho atual por nada”.
Denise Castanho Antunes, terapeuta ocupacional e coordenadora do Projeto Tear, explica que por meio do fazer artesanato é possível estimular vários sentidos, sejam eles de bem-estar, de responsabilidade, de pertencimento ou novas contratualidades sociais. “A gente pode dizer que o trabalho é transformador na vida dessas pessoas, levando também à autonomia e a novos desenvolvimentos sociais, além de ser um espaço de integração”, comentou. “Essas atividades podem liberar hormônios do prazer, estimulando aspectos positivos de bem-estar”.
“Quando começamos a fazer artesanato nós temos outro entendimento da vida. Começamos a ver cores onde um dia era escuridão”. E a escuridão está se dissipando da vida de Marisa (nome fictício), 38, outra artesã que encontrou um acalento na produção de materiais em MDF, que aprendeu em aulas online durante a pandemia. Ela lembra que o artesanato vem ajudando no tratamento de um quadro de depressão que teve início após a morte de sua mãe, em abril de 2020. “Foi muito difícil, eu engordei 40 quilos, pois só ficava em casa. Comecei a ver na internet pessoas que faziam artesanato como auxílio na cura da depressão e fui atrás”, ela conta. Hoje Marisa está bem melhor, segundo suas próprias palavras, e comercializando seus trabalhos, já que o artesanato é sua única fonte de renda.
Geração de renda com foco no artesanato
A Feira da Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender e comprar itens produzidos por artesãos guarulhenses. Atualmente são cerca de 120 pessoas cadastradas e autorizadas a comercializar seus produtos sete locais fixos, além das feiras itinerantes ou especiais organizadas pela Prefeitura.
Os artesãos podem, conforme a programação, exibir seus produtos em locais como Bosque Maia, Zoológico Municipal, Parque Júlio Fracalanza, Terminal Pimentas, calçadão da rua Dom Pedro II, Lago dos Patos e Internacional Shopping. De acordo com os relatórios da Secretaria do Trabalho de Guarulhos, órgão responsável pela gerência e organização dos eventos, estima-se que as vendas da feira tenham gerado um lucro de R$ 141 mil de janeiro a agosto de 2022.
Para participar da Feira da Economia Solidária é necessário comparecer à avenida Monteiro Lobato, 734 – anexo – térreo e 1º andar, no Macedo, ou entrar em contato pelo número (11) 2475-9742.