A conselheira tutelar Claudia Almeida, de 42 anos, se livrou há três anos de um relacionamento de mais de duas décadas de violências psicológicas, em que a sua vida, círculo social e os direitos de ir e vir eram controlados pelo ciúme obsessivo do ex-marido. “Eu era oprimida todos os dias, ele vigiava cada passo meu, comparecia todos os dias ao meu trabalho, escolhia o que eu comia e vestia, me proibia de falar com minha família e amigos. Eu não tinha com quem contar. Quando não estava com ele precisava ficar em ligação de vídeo para comprovar que eu não tinha outro relacionamento”, recordou.
O depoimento coincide com os cinco anos da criação da Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos nesta segunda-feira (7). Neste período, houve a intensificação de proteção e apoio à liberdade e à reconstrução da vida de quase 300 vítimas de violência doméstica. Neste aniversário, a equipe alerta quanto aos sinais de violência, além da física, praticada em relacionamentos abusivos e que deve ser denunciada: psicológica, moral, sexual e patrimonial.
O patrulhamento age como um aplicador da Lei Maria da Penha, que completa 17 anos na mesma data, e condena muitas formas de agressão complexas e perversas que violam o direito da mulher. Com mais de 12 mil fiscalizações de medidas protetivas por violência doméstica, a ronda 24 horas já prendeu 40 homens em flagrante por voltarem a ameaçar e perseguir com diversas abordagens.
No caso de Claudia, a manipulação e o ciúme eram os métodos de violência: acusar constantemente de traições, constranger a parceira e reduzir sua autoestima. A servidora temia não ser acolhida ao denunciar uma violência não física, mas obteve o auxílio dos órgãos judiciais e da GCM, que dois dias após a abertura do boletim de ocorrência passou a rondar o endereço em que vive e trabalha, além da parada do ônibus que utiliza. Mesmo após a separação e as denúncias o acusado enviou mensagens de ameaças e tentou aproximar-se da vítima, mas foi impedido pela vigilância dos guardas, que registraram cada contato.
Atualmente Claudia recuperou a autonomia e a descoberta de quem é. Dia após dia, os traumas psicológicos e as crises de pânico diminuem. Ela ressalta que a liberdade não tem preço: as amizades foram retornadas, formou-se em cursos, voltou a sair, conquistou sua habilitação para dirigir, concorrerá à eleição do Conselho Tutelar e pode sonhar livremente.
Denuncie
A inspetora da Patrulha Maria da Penha, Darcy dos Santos, orienta vítimas de violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial a buscarem ajuda e registrarem provas. “Tire fotografias das lesões e de objetos quebrados por causa da violência. Façam cópias de mensagens de celular, das redes sociais e da declaração de testemunhas que saibam ou presenciaram a violência. No caso de agressão física, procure o pronto-socorro ou a UBS mais próxima e faça constar o ato no seu prontuário”, explica.
Para denunciar ligue para a Central de Atendimento à Mulher (180) ou para a GCM pelo telefone 153. Para acompanhamento psicossocial e orientação jurídica, contate o Centro de Referência de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência Doméstica em Guarulhos pelo telefone 2469-1001.