A redução dos preços de alguns ativos e a expectativa de ajustes fiscais na economia brasileira no próximo ano, começando a apontar algumas tendências, poderão ajudar a tirar do fundo das prateleiras das gestoras os “hedge funds”. Conhecidos por aqui como os multimercados. Esses fundos fazem a aposta em diversas estratégias, buscando ganhos com arbitragens e caçando boas oportunidades no mercado.
Após um período de grande volatilidade, alguns ativos começaram a ser negociados a patamares mais atrativos, abrindo boas oportunidades para estratégias que estavam mais restritas, destaca o gestor de fundos do Citi, Claudio Sternberg. “Estamos vendo mais operações no mercado de juros locais e mais recentemente em renda variável, com gestores começando a montar posições”, disse.
Sternberg afirma que ainda há muitas divergências de opinião no mercado, o que indica que há espaço para bons ganhos. “Os gestores mais efetivos nas posições irão encontrar prêmio no mercado”, destaca. Para o gestor, os fundos multimercados voltaram a ser uma boa alternativa para aqueles investidores que aceitam correr risco de mercado.
O responsável pelo desenvolvimento de produtos do Bradesco Asset Management (Bram), Alexandre Mathias, concorda que 2015 poderá ser um bom momento para a aposta nessa modalidade. Segundo Mathias, o momento de turbulências das moedas, expectativa de ajustes no Brasil, queda do fluxo de capital estrangeiro e acúmulo de incertezas têm feito com que a queda de alguns ativos do mercado fosse maior do que mostra os fundamentos. “Depois de dois anos fracos, os multimercados poderão ter espaço para ter uma boa rentabilidade”, afirma.
O resultado do período mais difícil para os multimercados e de aversão ao risco dos investidores tem sido o resgate dos fundos. No acumulado do ano, por exemplo, os multimercados estratégia específica tiveram resgate líquido de R$ 8,93 bilhões. Os multimercados macro, por sua vez, registraram saída líquida de R$ 9,06 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
Apesar do cenário mais generalizado de fraca rentabilidade ao longo deste ano para esses produtos, os gestores que acertaram o cenário conseguiram apresentar bons ganhos. “A nossa família de multimercados está com um desempenho excelente nesse ano, porque estávamos com um cenário muito mais pessimista do que a média do mercado”, afirma o vice-presidente da Mapfre Investimentos, Eliseo Viciana, que acredita que 2015 será mais um ano de desafios para os gestores, já que o grau de indefinição e de riscos seguem elevados, na sua percepção. “Será um ano de alta volatilidade, mas o que também traz oportunidades”, destaca, lembrando que esse cenário irá demandar uma gestão muito ativa e a utilização de proteção ao longo do ano.
Os multimercados, assim, terão que trabalhar para capturar o cenário da economia, mediante uma alocação dinâmica para se buscar os melhores prêmios. Câmbio, juros e até renda variável estão entre as estratégias que estão sendo utilizadas. Além disso, os gestores também têm buscado complementar o portfólio usando o limite possível para exposição internacional. O CEO da asset do HSBC no Brasil, Alcindo Canto Neto, destaca que diante da boa rentabilidade das categorias de renda fixa, em especial dos atrelados ao DI, o investidor buscará alternativas de maior risco para ter o rendimento acima do benchmark.
A percepção de Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management, é que, diante da expectativa de uma menor influência de políticas não-convencionais praticadas pelos Bancos Centrais, os mercados em 2015 passem a operar mais atrelados a fundamentos. “Se o cenário econômico confirmar essa expectativa, ano que vem pode ser muito positivo para os fundos macro e multiestratégia”, afirma
Canto Neto, do HSBC, destaca que os fundos de fundos, que podem buscar as melhores opções dos gestores de diversas instituições para a composição do portfólio, se tornam atraentes nesse momento e a demanda por parte dos investidores tem apresentado crescimento. Segundo o CEO da Asset, a procura ocorre tanto para fundos que investem em cotas de diversas classes de fundos ou para uma modalidade específica, mas com diversificação de gestores.
O vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello, explica que “toda vez que o cenário fica complicado esse tipo de fundo acaba sendo mais demandado”. Segundo o executivo, muitos clientes institucionais acabam optando por esses fundos quando percebem que o mercado está mais dinâmico. “Esses investidores percebem que precisam de ajuda, porque o mercado está muito dinâmico”, disse.