Variedades

Murilo Salles invade as telas com dois documentários e uma ficção

Murilo Salles tem percorrido o Brasil fazendo debates sobre seu novo longa de ficção, O Fim e os Meios. No fim de semana, foi em Maceió – o filme passa-se no meio da política e o senador interpretado por Emiliano Queirós é alagoano. Na terça, 1º, o debate foi em São Paulo e, quarta, 2, à noite, em Brasília. No encontro com o repórter, pela manhã, a pergunta era inevitável – ele não estava apreensivo de mostrar seu filme no Congresso, num momento tão explosivo da vida pública brasileira? “Tem gente que me cobra um tratado sobre a corrupção, mas essa nunca foi a intenção. Comecei esse filme há sete anos, antes de tudo isso (Petrolão, Lava-Jato…). Se tivesse feito um filme sobre a corrupção, ele estaria datado, seria mais ingênuo que é. Reduzo a corrupção do filme ao mínimo porque o que me interessa são as relações. Mas a tese permanece válida – a corrupção mata.”

O Fim e os Meios é um de três filmes de Murilo Salles que estão estreando nesta quinta, 3, na cidade. Os outros dois são documentários – Aprendi a Jogar com Você e Passarinho Lá de Nova Iorque. Antes que você comece a pensar que se trata de uma overdose de Murilo Salles, é bom considerar que o diretor, há tempos, andava fora de circuito, frequentando somente festivais. Seu retorno é bem-vindo, até porque se trata de um diretor talentoso, que curte a experimentação – de formas e gêneros – e que faz cinema para refletir o Brasil. Pergunte e ele vai responder que não é um pensador do Brasil, como Glauber. Não é um pensador macro, acrescente-se. Murilo Salles faz filmes que comem pelas bordas. O Fim e os Meios retrata o grande mundo da política da perspectiva do baixo clero, dos assessores. Aprendi a Jogar e Passarinho refletem o fazer da arte e da cultura do ponto de vista da periferia.

Os filmes nasceram com esse propósito. “Queria refletir um pouco sobre essa produção cultural que antes era desprezada pela elite e hoje domina o mercado e atravessa as classes sociais. Aprendi a Jogar é sobre o DJ Duda e a cantora Milka Reis, que tentam estourar uma música. A dupla é de Samambaia, cidade satélite de Brasília, e rompe barreiras para atingir seu objetivo. Minha montadora descobriu que a música havia sido composta para um filme e isso nos levou a Passarinho, ao Cícero Filho, cineasta do interior do Maranhão que, também contra tudo e todos, tentava refazer uma cena de seu filme Flor de Maio.”

Todos esses personagens – e filmes e situações – permitem que Murilo investigue duplamente a linguagem, e o País. Seu documentário se nutre da ficção, sua ficção é documental. Lá e cá, o que o move é a paixão do cinema. Ex-diretor de fotografia, ele admite que tem um prazer quase sensual em armar os planos. E arma bem, como você vai ver. O Fim e os Meios tem locações em vários lugares do Brasil. Parece um filme caro, mas não é. No país em que o dinheiro parece estar indo para o ralo, a economia, transformada em método, não é a menor das qualidades de Murilo Salles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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