Maior museu americano, o Metropolitan Museum inaugura nesta sexta, 18, sua nova ala para arte moderna e contemporânea, o Met Breuer, a seis quarteirões do seu prédio principal em NY. Ocupando o edifício que por quase meio século abrigou o Whitney Museum (voltado à arte produzida nos EUA e agora instalado na parte baixa da cidade), o novo espaço deve ter como perspectiva principal, segundo seus dirigentes, contextualizar na história da arte movimentos artísticos internacionais dos séculos 20 e 21. Para tanto, tem cinco milênios que os precedem e estão representados no acervo do próprio Met.
A introdução dessa proposta está em Unfinished: Thoughts Left Visible, exposição que abre o Met Breuer e promove a discussão a respeito de quando uma obra de arte está concluída ou não. Com cerca de 200 objetos, Unfinished estimula a imaginação do espectador a completar pinturas, desenhos e esculturas de Jackson Pollock, Robert Rauschenberg, Lygia Clark, Yayoi Kusama, e também El Greco, Rembrandt, Turner, Picasso e outras dezenas de artistas dos últimos cinco séculos. Instalados no terceiro e quarto dos cinco andares do prédio estão exemplos que abrangem desde o Renascimento a trabalhos deste ano, que ficaram inacabados contra ou pela vontade do artista. Para a inauguração, o Met Breuer também exibe Nasreen Mohamedi, primeira retrospectiva da artista indiana (1937-1990) nos EUA.
Em ordem didaticamente cronológica, nas galerias do quarto andar Unfinished apresenta obras de artistas do século 15 ao 17. A ênfase está nos que experimentaram a estética do “non finito” (não acabado) propositalmente, que incluiu mais tarde o que, para estudiosos, parece não ter sido terminado. O inglês William Turner (1775-1851) mereceu uma saleta especial com cinco telas da coleção que foi doada por ele à Tate Britain. Vários quadros do fim da carreira de Turner são admirados por seu estilo abstrato relacionado ao “non finito”. A maioria nunca foi exibida durante a vida dele e ficou de lado em seu estúdio à espera de conclusão.
Porém, no fim da vida, Turner começou a exibir trabalhos em que experimentava cores e manipulação para que o tema ficasse indefinido e etéreo, uma escolha criticada por muitos dos seus contemporâneos. Não se sabe se algumas de suas últimas pinturas são base para quadros mais acabados ou testes para um tipo de pintura que ele esperava ser aceitável mais tarde. Turner foi uma das grandes influências entre abstracionistas americanos como Robert Motherwell e Helen Frankenthaler.
No segundo andar, estão obras dos séculos 20 e 21. Desde o fim da 2.ª Guerra, “a incompletude é tanto um pré-requisito para a arte como um objeto a ser buscado por si mesmo”, diz texto da curadoria à entrada das galerias. Ali, encontram-se obras dos brasileiros Lygia Clark e Hélio Oiticica. Além de chamar o observador a alterar suas criações, os artistas passam a usar materiais que se desgastam ou acabam com o tempo e inventam processos e submetem a ideia de obra concluída a infindável experimentação.
Para uso do edifício renovado, o acordo entre o Met e o Whitney é, em princípio, de oito anos e por valor até agora não divulgado. Transformado em Met Breuer, em homenagem ao arquiteto húngaro Marcel Breuer, que o projetou, o prédio teve poucas alterações. Basicamente, a fachada de cimento e o piso interno de pedra foram limpos, e acréscimos feitos desde a inauguração, em 1966, foram desfeitos para acomodar novas tecnologias e mais público.
A mudança menos visível ainda e mais esperada é o giro do Met em direção à arte moderna e contemporânea, o que até agora era considerado seu ponto fraco. O Met Breuer é o espaço para isso enquanto se constrói uma nova ala dedicada à arte produzida desde o século passado no edifício principal, na Quinta Avenida. A um custo estimado em US$ 600 milhões, esta ala deve ficar pronta até terminar o prazo do acordo com o Whitney.
A tarefa de dar o novo perfil ao departamento de arte moderna e contemporânea do Met é capitaneada pela inglesa Sheena Wagstaff, ex-chefe dos curadores da Tate Modern, em Londres. Ela começou as mudanças quatro anos atrás, com a dispensa de alguns historiadores voltados para o modernismo europeu e a criação de novos postos, como os de curadores de arte contemporânea latino-americana, norte-africana, sul-asiática, turca e do Oriente Médio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.