Eriberto Leão revela um profundo conhecimento sobre as ideias e a poesia de Jim Morrison, um saber que transforma sua atuação no musical Jim em algo especial – o público não está diante de um ator que apenas reproduz a voz e os maneirismos do cantor americano (ainda que a semelhança seja impressionante), mas de um artista que decifrou o trabalho do outro, buscando entender sua lógica e, a partir de sua própria apreensão, transmitir isso para a plateia.
“Morrison me abriu as portas da contracultura e, sem ela, acredito que eu não conseguiria me manter são em nosso sistema civilizatório”, conta o ator. “Foi graças também a Jim que desvendei o movimento beatnik, o último grande movimento da contracultura mundial por meio da obra de Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Jim me permitiu conhecer ainda o universo de outros pensadores como William Blake e Rimbaud, que mudaram minha forma de ver o mundo.”
Leão ficou fascinado pela trajetória do músico ao assistir, quando estava com 18 anos, a documentários sobre ele e também ao longa The Doors, controversa biografia dirigida por Oliver Stone, cujas falhas e omissões de informações o musical Jim busca suprir.
Não se trata de uma mera missão – mesmo passados 45 anos depois de sua morte, James Douglas Morrison, ou Jim Morrison, continua sendo uma figura emblemática da recente cultura popular mundial. Suas intensas performances no palco, muitas delas chocantes mesmo para os libertários anos 1960, aliadas a letras recheadas de simbolismo e pitadas de xamanismo, transformavam Jim em um homem de personalidade selvagem e hipnotizante, graças também à sua beleza física, que ele tão bem sabia utilizar. Um carisma tão forte que seu legado ainda se faz presente.
“Quando comecei a pesquisar, descobri um Jim Morrison que não imaginava e que muita gente não sabe quem é, então vimos que precisávamos trazer uma outra ideia do Jim para o público”, explica Walter Daguerre, autor de Jim, cuja direção tem a assinatura de um profundo conhecedor do fazer teatral, Paulo de Moraes. O roteiro, portanto, não é simplesmente uma biografia.
A trama acompanha João Mota (Leão), um homem de quase 40 anos que sonhou em seguir os passos do ídolo Jim Morrison, como artista e ser humano. A peça mostra ele diante do túmulo de Jim, em Paris, no cemitério Père-Lachaise.
João traz uma arma, pois está decidido a acertar as contas com o vocalista, que tanto influenciou sua vida. Enquanto passa a própria vida a limpo, João reencontra-se misteriosamente com o próprio Jim Morrison e com uma misteriosa mulher (interpretada por Renta Guida), que representa o feminino de diversas formas: Pamela Morrison (mulher de Jim), a mulher de João Mota e ainda a mãe Terra. A presença da personagem pode ser interpretada também como uma consciência intuitiva profunda de João.
“São dois planos paralelos: Mota e seu acerto de contas com Jim, e o vocalista encarnado no próprio João, decidido a se matar, acreditando que foi isso que seu ídolo fez”, destaca Paulo de Moraes.
JIM
Teatro Vivo. Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460 (antigo 860). Tel.: 3279-1520. 6ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 18h. R$ 40/ R$ 80. Até 18/12
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.