Imagine um advogado que não saiba se expressar diante do juiz que irá julgar seu cliente. Ou, um publicitário que não consiga encontrar as palavras que tornem seu anúncio atraente e convincente. Ninguém, porém, pense que afora estes casos óbvios de profissionais com necessidade de domínio verbal eficiente, exista, hoje, quem esteja dispensado de enfrentar a, sempre angustiante, “luta pela expressão”. Porque qualquer outro profissional de nível superior que cometa um erro grave de linguagem, num laudo ou numa simples entrevista, será visto com maus olhos.
Mas, é claro, é na área do Jornalismo onde se torna esmagadora a imposição de boa performance no uso da linguagem verbal.
Há tempos, um curso de Jornalismo do Centro-Oeste decidiu enfrentar as dificuldades de seus alunos com as palavras. E achou que valia a pena me contratar, e, me incumbir de identificar e propor soluções para estas dificuldades.
Depois de algum tempo de pesquisa, identifiquei as seguintes complicações nos textos deles: 1) ausência de expressividade e de originalidade, indicadas por frases-feitas e chavões; 2) banalidade de conteúdo; 3) uso inadequado de vocabulário; 4) perda de coerência e de coesão textuais; 5) falta de rigor na reprodução do real; 6) desconhecimento de regras ortográficas aplicadas à elaboração de textos; 7) domínio insatisfatório das estruturas de textos narrativo, descritivo e dissertativo; 8) barreiras no desenvolvimento de raciocínio lógico.
Dificuldades com as palavras que nascem na ampla cadeia de relações sociais, no cerne da qual se desenrola a existência de cada um de nós.
Então, quando houve uma grande reunião de docentes e discentes, promovida para ouvir meu relatório, considerei meu dever alertar que se tornava imprescindível libertar os alunos do confinamento criado pela departamentalização estanques das disciplinas. Pois, era certo, a grade curricular a que eles estavam presos não os ajudava a vencer suas dificuldades de expressão verbal, O que era grave porque as origens das dificuldades deles se fincavam em antigos condicionamentos, tanto nos modos de pensar como de se exprimir, adquiridos, anteriormente, nas diversas esferas de suas existências – as da família, do bairro, da igreja etc. Destes condicionamentos eles teriam de se livrar. E, a fragmentação curricular retirava da faculdade seu poder de tornar os quatro anos de permanência nela, um período realmente transformador, ao longo do qual nos alunos emergissem pessoas, de algum modo, diferentes daquelas que eram quando prestaram vestibular. Tratava-se, portanto, de recuperar a força de influência própria do convívio universitário. E isto impunha estratégias pedagógicas que permitissem a incorporação à formação dos alunos de tudo o que contivesse vida, vibração e efervescência, dentro da própria faculdade, na sua universidade, e na própria cidade. No meu relatório, naturalmente, inclui sugestões de algumas destas estratégias.
(Ilustração: Preocupação com as palavras. Foto da rede de compartilhamento de imagens da internet, a Pinterest)