Estadão

Na ata, Copom diz que não houve alteração substancial sobre cenário de crescimento

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou, na ata da reunião da semana passada, divulgada nesta terça-feira, 26, que não houve "alteração substancial sobre o cenário de crescimento", embora os dados de atividade recente reforcem a percepção de um cenário marcado por "resiliência". Atualmente, a estimativa do BC para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 é de alta de 1,7%, que pode vir a ser alterada no Relatório Trimestral de Inflação deste mês.

Na ata, o comitê destacou que o consumo teve uma redução de ímpeto no PIB do quarto trimestre, mas deve seguir resiliente à frente. Conforme o BC, a sustentação se deu no quarto trimestre por: um mercado de trabalho dinâmico, tanto no nível de emprego quanto de salários, pela expansão de benefícios sociais, pela lenta desalavancagem das famílias e, por fim, pelo processo desinflacionário, que contribuiu para aumento da renda real disponível.

À frente, além dos fatores já citados, devem contribuir para o crescimento do consumo, na visão do Copom, a elevação do salário-mínimo, a redução do impacto da contração monetária ao longo do tempo, transferências fiscais e o ciclo de crédito em fase de retomada.

"Mencionou-se, ademais, que alguns indicadores de alta frequência permitiriam uma leitura que corroboraria esse argumento, inclusive com alguma surpresa nas divulgações mais recentes das pesquisas de serviços e comércio, elevando a projeção de crescimento para o trimestre."

O colegiado ainda avaliou que o investimento deve ter um cenário mais auspicioso em 2024, como já observado no quarto trimestre, depois da perda de dinamismo observada em 2023. Neste ano, o Copom espera que o maior apetite na oferta de crédito, a redução das taxas de juros e o relaxamento das condições financeiras impulsionem o investimento. No ano passado, a elevação da incerteza e as condições financeiras restritivas prejudicaram esse componente da demanda, segundo o BC.

<b>Mercado de trabalho</b>

O Copom voltou a relatar na ata do último encontro as incertezas que permanecem em relação ao mercado de trabalho e se comprometeu a monitorar de perto as variáveis que compõem o cenário laboral e suas consequências para outros indicadores e no atingimento da meta de inflação.

"Dada a dificuldade de uma conclusão assertiva sobre as defasagens entre o mercado de trabalho e a atividade econômica, o Comitê seguirá acompanhando os dados em profundidade", escreveu o colegiado.

De acordo com a cúpula do BC, a ênfase se deu na aceleração de rendimentos e da massa salarial, reforçando o diagnóstico de um mercado de trabalho dinâmico.

<b>Inflação</b>

Com relação à inflação, o Copom reforçou que, como esperado no segundo estágio da desinflação, a velocidade de desinflação se reduz, exigindo "serenidade e moderação" na condução da política monetária. Apesar de o cenário-base de inflação e atividade econômica não ter divergido substancialmente do que se previa, os integrantes do BC enfatizaram a resiliência na atividade com dinamismo no mercado de trabalho. "Tanto a renda quanto o crédito têm se comportado de forma a atenuar a desaceleração da atividade no período recente, sustentando a visão de que o cenário segue sendo de desaceleração gradual", salientaram.

A cúpula do BC dedicou um longo parágrafo (14) para aprofundar a discussão sobre a dinâmica desinflacionária, que, segundo o Copom, não divergiu significativamente do que era esperado. O colegiado, porém, avalia que o cenário de inflação se mostra mais incerto.

Por um lado, de acordo com o grupo, há algum arrefecimento nas projeções de alimentação para o curto prazo, revertendo os aumentos recentes, e bens industriais mantêm trajetória benigna.

Por outro, a recorrência de surpresas inflacionárias na inflação de serviços, em particular em seus componentes subjacentes e itens intensivos em trabalho, suscita dúvidas sobre a velocidade da desinflação prospectiva.

"O Comitê avalia que parte relevante da desinflação de serviços se deu pelo transbordamento das desinflações verificadas em alimentos e bens industriais e o fortalecimento do processo desinflacionário, agora em seu segundo estágio, estará mais relacionado ao cenário do mercado de trabalho e da demanda agregada", cogitou.

A evolução prospectiva do hiato do produto e o comportamento do mercado de trabalho foram considerados pelo BC, novamente, muito relevantes para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta.

"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", indicaram os membros do Copom.

Em contraposição, o colegiado destacou que uma recomposição favorável de preços relativos, uma dinâmica benigna de commodities ou uma menor inflação de serviços poderiam potencialmente contribuir para um processo desinflacionário mais célere.

"Em sua conclusão, o Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação não se alterou substancialmente, mas se mostra mais incerto. Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária contracionista e cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária."

O Copom voltou a enfatizar que as expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação.

De acordo com a ata, foi mencionado que o cenário de expectativas acima da meta por um período prolongado requer um acompanhamento mais próximo para garantir, ainda que nesse cenário, o atingimento da meta de inflação. "O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira."

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