No dia do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, os mercados adotaram forte postura defensiva, mas o mercado de câmbio brasileiro operou na contramão. Mesmo com o dólar operando majoritariamente em alta ante outras divisas pelo mundo, por aqui houve queda ao longo de praticamente todo o período.
Profissionais do mercado apontaram ainda fluxo positivo para o dólar e redução de posições em moeda estrangeira como fatores que motivaram o comportamento. No entanto, não acreditam em espaço para recuos significativos, levando em conta o cenário externo e a possibilidade de maior movimentação do cenário eleitoral doméstico.
Ao final dos negócios, o dólar à vista ficou cotado a R$ 5,0781, em baixa de 0,67%. Com esse resultado, o "spot" encerrou a semana com queda de 1,74%, acumulando perda de 1,86% em agosto.
No mercado futuro, o dólar para liquidação em setembro recuava 0,69% às 17h07, aos R$ 5,0825. O Dollar Index (DXY), que mede a variação do dólar ante uma cesta de divisas fortes, subia 0,32%.
Jerome Powell fez um discurso breve e direto, como ele mesmo sinalizou. Afirmou que a busca pela meta de inflação de 2% era incondicional e disse que famílias e empresas sentiriam "alguma dor" com os esforços do BC na condução da política monetária.
O chairman do banco central americano afirmou que restaurar a estabilidade dos preços nos Estados Unidos ainda levará "algum tempo", numa tentativa de refrear apostas em breve redução dos juros. Powell sinalizou que novos aumentos de juros serão feitos, mas que a magnitude dependerá de novos indicadores econômicos e perspectivas de mercado.
Para Bruna Centeno, especialista em Renda Fixa da Blue3, o tom de Powell surpreendeu mais pela mudança de tom do que propriamente pelo teor, que de certa maneira já estava precificado. "Powell mostrou um Fed muito preocupado com a inflação, mas também muito comprometido com a busca da meta, o que é um aspecto positivo. Falar em juros de 4% nos Estados Unidos assusta, e o Brasil precisa controlar aspectos importantes da sua economia sob pena de ver uma fuga de recursos e as suas consequências no câmbio e na inflação", afirma.
No cenário doméstico, o Banco Central divulgou nesta sexta que o resultado das transações correntes ficou negativo em maio deste ano, em US$ 3,506 bilhões. Este é pior desempenho para meses de maio desde 2014, quando o saldo foi negativo em US$ 6,691 bilhões. Em abril, o resultado foi superavitário em US$ 1,088 bilhão. Já os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 4,483 bilhões em maio, segundo dos dados do BC.