Estadão

Na contramão do exterior, dólar cai com movimento técnico e fluxo

O dólar aprofundou o ritmo de queda ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 29, em terreno negativo no mercado doméstico, abaixo da linha de R$ 5,65, na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior em semana marcada por reunião de política monetária do Federal Reserve e do Banco do Japão.

Operadores ouvidos pelo <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) atribuíram a recuperação do real a questões técnicas e a eventual entrada de fluxo de exportadores. Investidores já estariam antecipando ajuste de posições típicas de fim de mês. Além disso, como a moeda brasileira apresenta a maior queda no ano entre as principais divisas globais e foi uma das que mais sofreu com o rali recente do iene, havia espaço para uma recuperação, com provável realização de lucros.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que, com o dólar já perto de R$ 5,65, não compensa a investidores estrangeiros sustentarem níveis tão elevados de posições "compradas" (que apostam na valorização da moeda americana). "Os estrangeiros estão já se antecipando ao fim do mês e zerando posições, já que não compensa promover a rolagem na virada do mês, e isso acaba ajudando a derrubar o dólar mesmo com a cautela lá fora", afirma.

Com mínima a R$ 5,6240 à tarde, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,6255, em baixa de 0,57%, o que reduziu os ganhos em julho a 0,67%. No ano, a moeda americana acumula valorização de 15,91% em relação ao real.

"O dia é para ser ruim para o real, com commodities em baixa e outras divisas emergentes se desvalorizando. Provavelmente, tivemos fluxo de exportadores e também já um movimento tendo em vista a ptax", afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, em referência a preparações para a disputa pela formação da última taxa ptax de julho na quarta-feira, 31.

Pela manhã, investidores assimilaram também as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à noite em cadeia nacional, de que não abrirá "mão da responsabilidade fiscal". Amanhã, sai o detalhamento da contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano – bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões.

Hoje, o Banco Central informou que o setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) teve déficit primário de R$ 40,873 bilhões em junho – um pouco acima da mediana de Projeções Broadcast (-R$ 39,4 bilhões).

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta ao longo do dia e voltou a superar os 104,500 pontos. Na outra ponta da gangorra, as commodities recuaram, com as cotações do petróleo em baixa de mais de 1,5%

Investidores tendem a adotar uma postura mais cautelosa à espera da decisão de política monetária do Fed na quarta-feira, 31. É dada como certa a manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%, mas há expectativa de sinais de corte nos próximos meses, provavelmente em setembro, no comunicado da decisão e na entrevista coletiva do presidente do Banco Central americano, Jerome Powell.

Espera-se também mudanças de comunicação na reunião do Banco do Japão (BoJ) na passagem da madrugada de terça-feira para quarta, com sinalização de alguma elevação de juros à frente ou até mesmo um aumento da faixa da taxa básica – o que pode levar a uma valorização adicional do iene em relação ao dólar e, por tabela, prejudicar divisas emergentes.

Por aqui, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncie manutenção da taxa básica em 10,50%, em um comunicado com tom duro, dada a deterioração recente das expectativas de inflação. No Boletim Focus divulgado hoje, aumentaram a mediana das projeções para o IPCA deste ano (de 4,05% para 4,10%) e do próximo (de 3,90% para 3,96%).

Em tese, a combinação de provável manutenção de Selic no nível atual por período prolongado com eventual corte de juros nos EUA tende a favorecer o real, ao aumentar a atratividade das operações de carry trade. Analistas alertam, porém, que o ceticismo com o cumprimento das metas fiscais e o mau humor recente com divisas emergentes inibem apostas na moeda brasileira.

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