Economia

Na crise, Cyrela lança imóveis de luxo

Assim como outros setores da economia, o mercado imobiliário está derretendo no País. O crédito está mais escasso, e mais caro, a inadimplência aumentou, as incorporadoras tiveram de lidar com a devolução de imóveis de clientes que perderam a capacidade de honrar suas dívidas, as vendas e os lançamentos despencaram. É no meio desse cenário que a Cyrela, maior empresa imobiliária do País, com receita anual de R$ 5,8 bilhões, espera voltar em grande estilo a um mercado que fica no outro extremo do Minha Casa Minha Vida e que tem fama de ser blindado de crises. É no luxo que a empresa de Elie Horn fará suas maiores investidas nos próximos meses.

Em parceria com a imobiliária Coelho da Fonseca, especializada em vender imóveis de altíssimo padrão, a Cyrela vai lançar dois empreendimentos na região da Avenida Faria Lima, onde está um dos metros quadrados mais caros do País. Os apartamentos terão entre 270 a 570 metros quadrados, pé direito de palacete, com seis metros de altura, e uma das coberturas dominará uma área de 1 mil metros quadrados. “Resumindo: é para quem tem dinheiro”, diz Efraim Horn, de 35 anos, copresidente da Cyrela e filho do fundador. “Esse cliente não pensa só em real. Ele tem aplicações em pelo menos três moedas.”

O valor do metro quadrado vai de R$ 25 mil a R$ 44 mil. Ou seja: ninguém será dono de um desses por menos de R$ 6 milhões e se quiser a cobertura terá de desembolsar mais de R$ 40 milhões. “Não se trata de um imóvel, mas de uma obra de arte”, diz Álvaro Coelho da Fonseca, fundador da imobiliária que vai vender esses apartamentos no mercado com a Cyrela. “Embora o tamanho impressione, são os detalhes exclusivos do projeto que colocam esse empreendimento na categoria luxo.”

O edifício NE Sixty, que será lançado no dia 1º de outubro, tem a assinatura do escritório londrino de design Yoo, dos renomados John Hitchox e Philippe Starck – o designer mais famoso do mundo, que tem entre seus trabalhos mais conhecidos um iate desenhado sob medida para o fundador da Apple, Steve Jobs. O terreno, na Rua Quatá, é resultado de mais de sete anos de negociações com os donos de 40 casas.

Na Rua Leopoldo Couto de Magalhães, a Cyrela vai lançar em novembro outro projeto para um público de milionários, dessa vez com a grife Pininfarina, escritório italiano responsável pelo design dos carros da Ferrari. Com 31 andares, o prédio terá 130 metros de altura e vista de 360 graus de cada apartamento. Os ambientes poderão ser integrados, ao gosto do morador. As garagens terão de 6 a 8 vagas.

Esse não é o primeiro projeto da Cyrela com o escritório italiano. No ano passado, a empresa lançou na Rua Fiandeiras um prédio com 92 apartamentos, também de luxo, mas menores (com cerca de 50 metros quadrados). Segundo Horn, 70% das unidades foram comercializadas. Na última sexta-feira, enquanto concedia entrevista na sede da Cyrela sobre os novos lançamentos, ele recebeu a notícia de um corretor de que um novo cliente estava disposto a pagar, à vista, R$ 22 mil por metro quadrado no empreendimento que foi lançado a R$ 27 mil. “Veja que, apesar da crise, há comprador, porque a oferta desse tipo de produto é muito escassa.”

Segundo dados do sindicato do mercado imobiliário de São Paulo, o Secovi, entre 2001 e 2013 foram lançados 18 prédios residenciais enquadrados na categoria luxo, uma média de dois por ano.

A própria Cyrela, nos últimos dez anos, lançou apenas três empreendimentos de luxo em São Paulo, entre eles o Parque Alfredo Volp, de 2004. Nesse período, a companhia de Elie Horn abriu o capital na bolsa de valores, levantou recursos e se dedicou a expandir e diversificar sua atuação. A empresa, conhecida por construir imóveis de alto padrão, passou a atuar também na baixa renda.

Como todas as companhias do setor, a incorporadora passou por um forte crescimento, que veio acompanhado de problemas como atrasos em obras e estouros de orçamento. A Cyrela foi uma das primeiras a identificar que precisava fazer ajustes em sua operação e reduzir de tamanho, para estancar perdas. “Hoje, ela é uma das três empresas mais saudáveis do setor”, diz o analista de um banco. “Ainda assim, ela está exposta aos problemas que vêm travando o mercado imobiliário no País.”

Um dos maiores desafios das grandes incorporadoras tem sido desovar o estoque de imóveis do portfólio. A Cyrela terminou o semestre com R$ 7,2 bilhões em unidades que estão nessa situação e tem comunicado ao mercado que sua prioridade é reduzir o estoque. “Essa continua sendo nossa meta”, diz Efraim Horn. “Esses dois lançamentos são uma oportunidade, em um segmento onde a crise nunca existiu.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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