Às 8h, a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como Igreja da Matriz de Guarulhos, estava lotada, com cerca de 200 pessoas, para a primeira das muitas missas do dia. O padre Cleber Leandro de Oliveira, que dirigiu a cerimônia, pediu inicialmente aos fiéis para escolherem "com consciência os nossos candidatos".
No final da missa, pegou o microfone para ler um texto de Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos. O título do texto é "Panfletinho do PT" e refere-se a "um manifesto baseado na mentira e no oportunismo do Partido dos Trabalhadores". Segundo o bispo, trata-se de um panfleto que seria distribuído neste domingo informando que "os católicos de Guarulhos" apóiam Dilma Rousseff.
Durante a campanha eleitoral, Bergonzini se notabilizou por recomendar aos fiéis que não votassem na candidata petista por considerá-la defensora do aborto. Em sua carta lida hoje nas missas de Guarulhos, o bispo diz que este suposto "panfletinho" está "em escandalosa desobediência àquilo que ensina o papa".
"A igreja é apartidária, mas temos que gritar contra quem é contra a dignidade humana", justificou o padre Cleber ao final da missa.
Mas o texto do bispo Bergonzini dividiu os fieis. "Maravilhoso", disse a aposentada Maria da Conceição Santos, de 80 anos. "Uma pessoa que luta contra a vida não pode ter votos". Questionada pela reportagem do UOL Eleições sobre quem ela estava falando, respondeu: "A Dilma, né?"
Já a catequista Dalva Francisca, que participou da missa das 9h, foi diplomática: "D. Luiz tem o direito de se expressar como membro de uma igreja que respeita a vida, mas tenho a minha opinião. Sempre fui da oposição. Era do MDB contra a Arena", disse, deixando no ar a sua opção partidária nesta eleição.
"Dilma vez por todas, para não deixar o país ir por Serra abaixo"
Inaugurada em abril deste ano, a Catedral de Guarulhos, da Igreja Universal, tem capacidade para 1.500 pessoas. No culto iniciado às 9h30 pelo pastor Jefferson Paulo apenas metade dos assentos estavam ocupados.
O deputado estadual e pastor Marco Porta (PSB) acompanhou o culto do altar, mas não fez nenhum pronunciamento. Foi o pastor Jefferson quem dirigiu os trabalhos por quase duas horas.
Uma boa parte da cerimônia foi dedicada à divulgação de um pedido de dízimo a ser entregue no próximo domingo. Os fiéis receberam um envelope com um folheto dentro, intitulado "A bênção das 7 notas", ilustrado com imagens de notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20, R$ 10, R$ 5, R$ 2 e R$ 1. O pastor explicou que o dízimo deve ser pago com uma nota de cada -o que totaliza R$ 188. "Eu determino que nenhuma dessas notas venha faltar na minha carteira", diz o folheto.
Ao final do culto, o pastor Jefferson fez uma brincadeira sobre as eleições. "Neste domingo, vamos votar Dilma vez por todas, para não deixar o país ir por serra abaixo". Depois disse. "Estamos com Dilma". Na sequência, teve início a distribuição gratuita (em troca de doações voluntárias) do jornal da igreja, "Folha Universal".
Com tiragem anunciada de 2,5 milhões de exemplares, o tablóide traz na capa o anúncio de uma reportagem sobre "vida após o câncer", ilustrado com a foto de uma jovem. Na última página, um artigo assinado pelo senador reeleito Marcelo Crivella (PRB-RJ), sobrinho de Edir Macedo, fundador da Universal, lista "7 razões para votar em Dilma".
No último ponto, Crivella diz que Dilma "vai governar respeitando as igrejas de todas as denominações" e que "respeita os valores cristãos de defesa da vida e da família".
À saída do culto, os fiéis não pareciam incomodados com o apelo político da cerimônia. "Eles dão a opinião deles. O voto é livre", disse a gerente de loja Aparecida Ussami. "Gosto do PT, voto Dilma, e se ele tivesse pedido voto para o Serra não ia mudar nada para mim".
"Tanto faz o pastor pedir voto. Não influi no meu", disse a costureira Maria das Dores da Silva. "Não quero votar na Dilma nem no Serra. Falam em melhorar, mas nada melhora", observou. "Gosto da mulher, mas não gosto do PT", completou, deixando no ar a sua opção.