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Na ONU, papa liga crise ambiental a exclusão social

Em seu primeiro discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), o papa Francisco conclamou líderes mundiais a adotarem medidas imediatas, efetivas e concretas contra a degradação ambiental, apontada por ele como um dos fatores responsáveis pela exclusão econômica e social e como uma ameaça à sobrevivência da humanidade.

O pontífice pediu a obtenção de acordos “fundamentais e eficazes” na Conferência do Clima marcada para dezembro em Paris e afirmou que existem “limites éticos” para a exploração da natureza. Falando em espanhol a chefes de Estado e de governo reunidos no plenário da ONU, Francisco os exaltou a irem além das declarações de princípios e adotarem “medidas concretas” para preservar o ambiente e eliminar a exclusão social e econômica. “O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efetiva, prática, constante.”

A crise ecológica e a destruição de grande parte da biodiversidade ameaçam a própria sobrevivência humana, ressaltou Francisco, enfatizando o sentido de urgência de ações contra a crise ambiental. “As nefastas consequências de um desgoverno irresponsável da economia mundial, guiado apenas pela ambição de lucro e de poder, devem ser um chamado a uma severa reflexão sobre o homem: O homem não se cria a si mesmo. É espírito e vontade, mas é também natureza”, disse, citando o antecessor, Bento XVI.

A degradação ambiental foi o foco do pronunciamento do papa, que dedicou ao tema sua encíclica Laudato Si, a primeira da história a abordar o assunto. O apelo aos líderes mundiais chega em um momento crítico das negociações internacionais, no qual os países tentam reduzir suas diferenças para evitar o fracasso de Paris.

A presidente Dilma Rousseff estava na plateia. Anfitrião do pontífice em Washington, o presidente Barack Obama só chegará a Nova York no domingo, na véspera da abertura da 70.ª Assembleia-Geral da ONU. O combate ao aquecimento global também é uma das prioridades da agenda do presidente americano, que pressiona líderes mundiais a assumirem compromissos ambiciosos em Paris, mas sofre resistência interna da oposição republicana.

Pobres

Reafirmando a visão da Laudato Si, o papa observou que os pobres são os mais atingidos pelo processo de degradação ecológica e sofrem seus efeitos em três dimensões: “São descartados pela sociedade. Ao mesmo tempo, são obrigados a viver de desperdícios e devem injustamente sofrer as consequências do abuso do ambiente. Esses fenômenos constituem, hoje, a cultura do descarte tão difundida e inconscientemente consolidada.”

Em sua avaliação, a preservação ecológica exige a limitação do poder de países e indivíduos, nos termos das regras internacionais. “Uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os menos hábeis”, observou. Segundo o papa, “a exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente”.

Lembrando que os homens são parte do ambiente, o papa ressaltou que este funciona dentro de “limites éticos” que devem ser respeitados pela atividade humana. “Cada criatura, particularmente viva, tem um valor intrínseco em sua existência, sua vida, sua beleza e sua interdependência com outras criaturas”, ressaltou. “Qualquer dano ao ambiente, portanto, é um dano à humanidade.”

“Nós cristãos, com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo é o fruto de uma decisão de amor do Criador, que permitiu aos homens usarem a criação para o bem de seus semelhantes e para a glória do Criador, mas não pode abusar dela e muito menos está autorizado a destruí-la”, declarou, sob aplausos. Francisco afirmou que a “casa comum” dos homens deve sustentar-se na fraternidade universal e no respeito ao caráter sagrado da vida humana, mesmo dos que ainda não nasceram. Apesar de o papa não ter usado a palavra “aborto”, a declaração é uma condenação da prática. Segundo ele, o mesmo caráter sagrado está presente na natureza.

Resumo

O papa iniciou sua visita de seis dias aos Estados Unidos na terça-feira, vindo de Cuba. Ao lado da defesa dos imigrantes, a questão ambiental ganhou destaque em suas declarações na Casa Branca, na quarta-feira, e no discurso que proferiu anteontem (24) no Congresso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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