Gleisi Hoffmann, Franklin Martins, Delúbio Soares, José Dirceu. A pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto conta com antigos aliados e auxiliares que acompanharam o petista durante os seus governos e saíram chamuscados da Presidência ou da linha de frente da base aliada no Congresso. Em comum, todos foram investigados pela Justiça durante e depois dos mandatos do PT. No caso mais emblemático, Dirceu foi condenado no mensalão e na Lava Jato.
A falta de renovação na equipe, que agora aconselha ou apresenta sugestões formais ou informais a Lula na disputa com o presidente Jair Bolsonaro, joga no embate eleitoral trajetórias de envolvidos em esquemas. O que não passou despercebido do eleitorado. Uma pesquisa da AP Exata, empresa que monitora os movimentos políticos nas redes, identificou que "corrupção" foi o tema mais presente em posts que o mencionaram, representando 30,7% das publicações. A confiança em Lula caiu três pontos nos últimos cinco dias.
Petista mais próxima de Lula atualmente, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), é alvo de dois inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal. Um deles é o do "quadrilhão do PT", que apura condutas suas e de seu ex-marido, o ex-ministro do Planejamento e das Comunicações Paulo Bernardo. Em outubro do ano passado, a Procuradoria reiterou a denúncia contra o ex-casal e requereu que a Corte aceitasse a acusação. Prevista para ser analisada em julgamento virtual, em dezembro do ano passado, a avaliação da denúncia foi suspensa pelo ministro Edson Fachin, após pedido da defesa.
Em outro inquérito, a deputada é investigada por suspeita de ter recebido R$ 885 mil de propina de duas empresas. Em 2019, a PGR se manifestou pelo arquivamento de uma parte da investigação e enviou a outra à Justiça Federal em São Paulo. O caso segue em aberto.
Coordenador da comunicação da campanha de Lula, Franklin Martins é alvo de um inquérito na Justiça Federal de Brasília. O ex-ministro foi delatado pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que disseram ter repassado a ele caixa 2 em dinheiro vivo. O advogado Ademar Rigueira Neto, que defende Franklin Martins no inquérito, disse ao <b>Estadão</b> que as acusações são baseadas em palavras de delatores e informou que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal pediram o arquivamento. Falta a Justiça homologar ou não os pedidos.
<b>Articulação</b>
Petistas condenados no mensalão seguem no entorno de Lula. Em entrevistas, debates e artigos, Dirceu e Delúbio tratam de temas da rotina do partido, como a formação de uma federação, de uma aliança rumo ao centro e de uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, como vice do petista. "O Lula e o PT precisam de uma política mais ampla que a esquerda para derrotar o bolsonarismo e para governar o País. É a realidade", disse Dirceu durante em entrevista ao canal do jornalista Breno Altman no YouTube.
O posicionamento vai ao encontro do que tem sido pedido por Lula, que defende uma aliança eleitoral que "ultrapasse as fronteiras do PT". Além disso, o ex-presidente também afirmou recentemente que o partido precisa trabalhar para aumentar as cadeiras na Câmara e no Senado.
Para colocar o plano em prática, o PT voltará a apostar em nomes como o do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha. Condenado a 6 anos e 4 meses por corrupção e peculato, ele avalia concorrer a uma cadeira de deputado federal e reforçar a base petista no Congresso. "Com a possibilidade real de o Lula virar presidente, acabou estimulando não só a mim, como a vários companheiros que estão pensando nisso", afirmou o petista em entrevista no mês passado.
<b>Ataques</b>
A presença de Dirceu no debate eleitoral tem servido como arma para ataques de Bolsonaro, segundo colocado nas mais recentes pesquisas de intenção de voto. Na segunda-feira passada, o presidente disse que, se eleito, Lula nomearia o ex-ministro novamente para a Casa Civil, e a ex-presidente Dilma Rousseff para o Ministério da Defesa, "porque ela é mandona". O PT sentiu o golpe. Dirceu veio a público negar a intenção de retornar ao Executivo federal se o líder petista for eleito. O próprio Lula afirmou que, se vencer, não pretende remontar governos passados.
Em nota, o PT informou que "a democracia brasileira pauta-se pelos princípios da presunção de inocência e do devido processo legal. Assim como os demais partidos, o PT submete-se ao julgamento das urnas; em nosso caso, acatando-o sempre." A legenda disse ainda que sua presidente foi "alvo de acusações falsas por adversários políticos".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>