O dólar à vista apresentou leve alta na sessão desta quarta-feira, 14, em um ajuste à deterioração dos ativos de risco ontem, quando a inflação ao consumidor nos EUA acima do esperado promoveu um rearranjo das apostas para o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central do país).
Previsões de parte de analistas, em relatórios divulgados entre ontem e hoje, de que o dólar poderia superar novamente o nível psicológico de R$ 5,00 não se concretizaram. O alívio hoje nas taxas dos Treasuries e a baixa da moeda americana no exterior, em aparente correção após o estresse de ontem, amenizaram as pressões sobre o real.
Com início dos negócios às 13h nesta Quarta-feira de Cinzas, o dólar apresentou oscilação de menos de dois centavos de real entre a mínima (R$ 4,9635) e a máxima (R$ 4,9790). No fim do dia, a divisa avançava 0,22%, cotada a R$ 4,9723. Em fevereiro, o dólar sobe 0,71%, o que leva a valorização acumulada em 2024 para 2,45%.
Divulgado ontem pela manhã, o índice de inflação ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em janeiro ante dezembro, mais do que indicava o consenso do mercado, de 0,2%. O núcleo do índice avançou 0,4%, também acima da mediana, de 0,3%. Na sexta-feira, sai o índice de preços ao produtor (PPI) referente a janeiro.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, chama a atenção para o fato de que há uma "preocupação especial" com o chamado "supercore" da inflação ao consumidor, que contempla a parte de serviços e exclui o setor imobiliário. "O Federal Reserve costuma observar esse indicador, excluindo questões relacionadas a imóveis e preços de casas, que mostrou uma aceleração significativa", observa Gala, em nota. "Espera-se que esse seja apenas um evento temporário e não algo mais permanente, mas isso empurrou as expectativas de cortes de juros para mais tarde, provavelmente no meio do ano".
Monitoramento do CME Group mostra que as chances de corte de juros em março, que chegaram a superar 80% no fim de 2023, hoje são praticamente nulas. Além disso, as apostas majoritárias para início do ciclo de cortes se deslocaram de maio, na semana passada, para junho após o CPI de janeiro.
O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, minimizou a leitura do CPI. Ele argumentou que não seria apropriado se ater ao resultado de um mês e reiterou que "está totalmente claro" o processo de desinflação nos EUA. Ele afirmou que o Fed não deve esperar a inflação anual retornar à meta de 2% para começar a reduzir os juros, uma vez que não pretende seguir "neste nível restritivo de política por muito tempo".
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que a manutenção da taxa de juros nos EUA na faixa entre 5,25% e 5,50% aponta para um quadro de dólar mais próximo de R$ 5,00 no curto prazo. Ele observa também que o movimento de saída de investidores estrangeiros da bolsa brasileira visto em janeiro prossegue neste mês, o que contribui para certa rigidez do dólar acima de R$ 4,95.
Dados da B3 divulgados hoje mostram que os estrangeiros retiraram R$ 1,258 bilhão da bolsa brasileira na sessão de quinta-feira, 8, levando os saques líquidos em fevereiro para R$ 4,211 bilhões. No acumulado do ano, o saldo do capital externo está negativo em R$ 12,108 bilhões.