Estadão

Nacionalista e militante pró-Rússia dá 5 tiros no premiê da Eslováquia

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, foi alvo de um atentado nesta quarta-feira, 15, segundo autoridades, por razões políticas. A polícia prendeu o atirador, Juraj Cintula, de 71 anos, um ultranacionalista e simpatizante do presidente russo, Vladimir Putin. Ele disparou cinco vezes contra o premiê, que foi levado às pressas para um hospital e submetido a uma cirurgia de mais de sete horas.

Fico, de 59 anos, saía de uma reunião de gabinete em Handlova, a cerca de 190 quilômetros da capital Bratislava. Ele cumprimentava um pequeno grupo de pessoas, em plena luz do dia, quando foi surpreendido pelo atirador.

Segundo o vice-premiê Tomas Taraba, pelo menos uma bala atingiu seu abdômen e outra, o braço. Ele afirmou que o premiê esteve em situação crítica, mas que resistiu à operação. "Ele não corre mais risco de vida", disse o vice-premiê.

<b>Reações</b>

O atentado chocou o país. "É o momento mais triste dos 31 anos de história da Eslováquia. Um ataque ao premiê é um ataque à democracia", afirmou o ministro da Defesa, Robert Kalinak. "A violência é inaceitável. O discurso de ódio leva a atos de ódio. Por favor, vamos parar com isso", disse a presidente do país, Zuzana Caputova.

Vários líderes também condenaram o atentado. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que estava "alarmado" com o ato de violência. Viktor Orbán, premiê da Hungria, um aliado de Fico, se disse "chocado". Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, condenou o ataque, que o russo Vladimir Putin chamou de "crime monstruoso".

As razões do ataque, porém, são mais obscuras. Uma pista está na trajetória do premiê, um veterano com 30 anos de carreira, que começou militando na esquerda, mas abraçou a direita nos últimos anos, com um discurso anti-imigração, contra a UE, em favor da Rússia e contra os direitos LGBT+.

<b>Ziguezague</b>

Fico havia sido premiê em outros períodos, entre 2006 e 2010, e entre 2012 e 2018, quando renunciou após o assassinato do jornalista Jan Kuciak, que investigava casos de corrupção em seu governo. Ele voltou ao poder na eleição de outubro, quando seu partido, o Direção Social-Democracia (Smer-SD), fundado em 1999 de uma dissidência do Partido Comunista, saiu das urnas como o mais votado.

De novo no cargo, ele declarou guerra às instituições, prometendo reformar o Judiciário e abolir a procuradoria especial, criada há 20 anos para investigar casos de corrupção. Fico também quis fechar a TV pública RTVS, que "havia perdido a objetividade", segundo ele, "pois estava sempre em conflito com o governo".

Nenhuma autoridade confirmou a identidade do atirador, mas a imprensa cravou que se trata de Cintula, poeta e escritor. O jornalista húngaro Szabolcs Panyi, escavando seus posts no Facebook, descobriu que ele é simpatizante do grupo paramilitar Slovenskí Branci, ligado ao Kremlin – o que torna as razões do atentado ainda mais contraditórias e complexas. Autoridades e o filho de Cintula garantiram que ele não sofre de problemas mentais. Em uma das mensagens online, o atirador defende a criação de milícias para proteger a "tradição eslovaca" da chegada de imigrantes.

<b>Arma</b>

Cintula tem porte de arma e trabalhou como segurança privado. A TV Markiza divulgou um vídeo após o ataque que mostra o poeta criticando o governo. "Por que a mídia está sendo alvo (de Fico)? Por que a RTVS está sendo atacada? Por que Mazak foi demitido de seu cargo?".

Jan Mazak é um juiz que presidia o Conselho Judicial. Ele foi destituído em abril, em uma manobra arquitetada por Fico, segundo a oposição, para consolidar o controle de seu partido sobre o Judiciário da Eslováquia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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