Impossível para um ser humano normal ignorar a tragédia do Realengo, que deixou – até o momento em que esta coluna era escrita – 12 adolescentes entre 12 e 14 anos mortos, além do próprio assassino Wellington Menezes de Oliveiras, 23, que se matou na manhã da quinta-feira, dentro de uma escola municipal no Rio de Janeiro.
Nestes momento, como não pode deixar de ser, fala-se muito e ouve-se demais. A mídia, cumprindo seu papel de informar, vai em busca de detalhes, explicações (por mais que elas não existam), imagens, furos jornalísticos. A polícia promove investigações para elucidar um crime e encontrar possíveis culpados, que iriam além do próprio autor dos perto de 70 disparos com um revólver calibre 38.
Já os políticos – sempre eles – aparecem na frente das câmeras de TV para nada dizer. Parece uma prática comum. Falam o óbvio, anunciam medidas mirabolantes, buscam responsáveis, choram… A sociedade, consternada, está suscetível a acontecimentos que são improváveis. Especialistas em generalidades ganham minutos de fama ditando pontos de vista, como se tudo pudesse ser evitado caso medida A ou B fosse tomada.
Mas o que mais incomoda é saber que nada poderia ter sido feito para evitar aquela tragédia. E isso não significa que nossas crianças precisarão ir às escolas com coletes à prova de balas (numa visão mais radical) ou que todos teremos que passar por detectores de metais, cada vez que formos a um prédio público.
Por mais dor que cause, não existem motivos para que a população entre em desespero. A repetição de uma tragédia como a de quinta-feira, apesar de possível, é bastante improvável, por mais que se perceba que os cidadãos estão vulneráveis, em muitos momentos de suas vidas.
Em 1999, foi o estudante de medicina que entrou armado em um cinema e matou três. Nunca mais houve situação parecida, mesmo que nossas salas de exibição permitam a entrada de qualquer um sem ser revistado.
Por mais lamentável que seja a situação vivida neste momento, a sociedade precisa ter a clareza de suas limitações. Mas, jamais, pode permitir qualquer tipo de paranóia ou histeria coletiva. Ninguém deve viver a espera de outro doente, que consegue uma arma em qualquer esquina.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr