A medalhista olímpica Adriana Araújo tenta o título mundial dos pesos superleves, versão Conselho Mundial de Boxe, domingo, em Londres, diante da britânica Chantelle Cameron. Em entrevista exclusiva ao <b>Estadão</b>, a baiana de 38 anos falou sobre o preconceito superado em um esporte predominantemente machista, do pioneirismo ao conquistar o bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, revelou a determinação nos treinamentos, da força psicológica e da coincidência em retornar à capital inglesa, sua "segunda casa".
A britânica Cameron tem 29 anos e está invicta, com 12 vitórias, sendo 7 nocautes. A última luta da número 5 do ranking foi em novembro do ano passado, vitória por decisão unânime contra a argentina Anahi Ester Sanchez. Com seis vitórias, a também invicta Adriana, número 3 do mundo, lutou pela última vez em 29 de fevereiro, quando venceu a venezuelana Estheliz Hernandez.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
<b>Preparada para mais um grande desafio?</b>
Sem dúvida. São quase 20 anos esperando, imaginando este momento. Minha vida é marcada por grandes desafios. Tive muitos obstáculos para conseguir treinar boxe, sofri muito preconceito, mas consegui superar tudo e chegar a conquistar uma medalha olímpica inédita para o Brasil. Agora é a vez do título mundial e ninguém vai tirar isso de mim. Pode ter certeza de que trarei o cinturão para o Brasil.
<b>E mais uma vez Londres está no seu caminho…</b>
Londres é minha segunda casa (risos). Fui para lá em 2012 e trouxe a medalha olímpica. Agora, chegou a vez de trazer o título mundial. Os duros momentos vividos no boxe olímpico me deram a experiência que eu vou usar agora. Essa chance não poderia vir em momento melhor. Estou madura, experiente, consciente do que precisa ser feito, pronta para ser campeã mundial.
<b>Você soube da luta há duas semanas. É pouco tempo de preparação?</b>
Pode ser pouco tempo para a minha rival. Para mim, não. É a chance da minha vida. Vou entrar com tudo no ringue. Não vou perder esta oportunidade. O título virá para o Brasil. Minha preocupação é chegar bem no peso. Ou seja: não sofrer para dar o peso (63,5 quilos). Tudo bem com a balança, vou entrar completa porque meu lado psicológico está muito forte.
<b>Você conhece a Chantelle Cameron?</b>
Sim. Eu já vi ela lutando como amadora e profissional. Ela gosta de vir para cima, mas eu estou preparada para colocar a mão forte e acabar com o entusiasmo dela. Eu me sinto muito forte, motivada, nada vai me deter. Preocupação maior deve estar do lado dela. Uma matéria recente na imprensa britânica falou muito bem de mim.
<b>A pandemia atrapalhou seus treinamentos?</b>
Não. Eu sabia que estava na cara do gol para disputar o título. Estava treinando e esperando a oportunidade, que, graças a Deus, veio. Chegou a hora de surpreender mais uma vez.
<b>Qual seu prognóstico para a luta?</b>
Eu sempre vou em busca do nocaute. Vai depender do ritmo da luta.
<b>E pensar que há pouco tempo você quase largou o boxe e chegou a trabalhar como motorista de Uber?</b>
Este foi um período ruim pelo qual eu passei, mas que me deixou ainda mais forte. Eu digo que levanto todos os dias da mesma forma: feliz, otimista, determinada e abundante. As iniciais formam um palavrão, mas mostram a determinação que eu tenho para superar todos os obstáculos.
<b>O que a conquista do título mundial pode representar para o boxe feminino do Brasil?</b>
Espero que as coisas mudem no País. Espero poder estar em ação para ver essas mudanças. Espero poder ver as lutadoras terem respeito, patrocínio, apoio do governo. Não é possível uma atleta que é medalhista olímpica e está prestes a disputar um título mundial não ter um parceiro. Mas isso vai mudar, tenho certeza.