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“Não desperdiçaremos a crise que enfrentamos”, repete Dilma no Chile

Em discurso reservado a convidados do almoço oferecido pela presidente chilena Michelle Bachelet em Santiago, a presidente Dilma Rousseff chamou nesta sexta-feira, 26, os dois países a “não desperdiçar a crise que enfrentam”, referindo-se à queda no preço das commodities e à desaceleração da economia chinesa. “O quadro internacional é inquietante. Precisamos usar a nossa cooperação como forma de aproveitar a crise. Não desperdiçaremos a crise que enfrentamos”, afirmou a brasileira, repetindo uma expressão usada em um discurso em Minas Gerais no início do mês.

As duas líderes deram especial ênfase à necessidade de acelerar a aproximação dos blocos Mercosul e Aliança do Pacífico. Elas tiveram uma reunião bilateral na capital chilena, onde a brasileira começou uma atípica visita de Estado, pelo número de audiências com economistas e empresários e pelos dois dias de duração. Com a ampliação de sua permanência no Chile – a volta estava prevista para as 13 horas de sábado e passou para as 17 horas -, ela não deve chegar à tempo tempo de participar da festa de 36 anos do PT, na noite desta sábado, 27.

A presidente chilena anunciou um encontro de chanceleres de países integrantes dos dois blocos em Assunção no fim de março. Bachelet destacou que na mesma cidade, em dezembro, Argentina, Brasil, Chile e Paraguai avançaram no plano de integração física necessário para um corredor que vai de Porto Murtinho, no Mato Grosso, cruza o Paraguai, o norte argentino e chega a Antofagasta, no Chile. Dilma exaltou a insistência de Bachelet na aproximação entre os dois blocos e a opção pelo transporte ferroviário no caso desta obra.

“Vamos encurtar a distancia entre o Atlântico e Pacífico. O corredor é estratégico porque vai permitir o acesso aos mercados da Europa, da África, dos EUA e da Ásia. Olharemos alguns outros corredores, mas esse será o estratégico”, disse a presidente.

Dilma ressaltou a importância da integração em razão da crise internacional e salientou que o comércio está totalmente liberado entre os dois países desde a assinatura de um acordo em novembro do ano passado. O Chile é o segundo destino das exportações brasileiras na América do Sul. O Brasil é o primeiro foco dos investidores chilenos – são 150 empresas da área de serviços, com valor de US$ 26 bilhões.

O ato com Bachelet no Palacio de La Moneda atrasou uma reunião com 20 empresários brasileiros com negócios no Chile, organizada em uma sala pequena no onde ela está hospedada. Segundo relato de dois participantes do encontro, a presidente logo de entrada admitiu uma “grande crise” no país, ouviu sugestões e fez comentários sobre cada uma. Ela citou o ajuste fiscal como medida de curto prazo, a reforma da Previdência em uma perspectiva média e longa e expôs como imprescindível o retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Ela sabe que o empresariado e a sociedade são contra aumentos de impostos, mas escutamos”, disse um dos presentes. Quando um do presentes afirmou que não tinha reclamações, mas boas notícias, a presidente teria respondido “há muito tempo não escuto isso”.

Para entender

Em uma declaração conjunta, ambas mostraram-se em sintonia em outros pontos, como no apoio ao processo de paz na Colômbia. O Brasil se dispõe a ajudar na retirada de minas terrestres e em conhecimento sobre agricultura familiar. Também anunciaram parcerias na área de estudos astronômicos e na produção de medicamentos. Tanto Dilma quanto Bachelet, após primeiros mandatos com alto índice de popularidade, enfrentam começos de segundo governo com baixa aprovação. A chilena tem de lidar com a investigação sobre tráfico de influência de seu filho. Sebastián Dávalos conseguiu um empréstimo de US$ 10 milhões para comprar um terreno que poucos sabiam que se valorizaria.

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