A dona de casa Maria Aparecida da Conceição, de 41 anos, sempre questionou a procedência da carne que escolhia para a família e só comprava produtos de marcas conhecidas – como as que foram alvo da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, ontem. “Tenho um filho pequeno, que dá trabalho na hora do almoço, e só comprava carne moída para ele, justamente da marca que disseram no noticiário que misturava o produto com papelão. É uma falta de respeito, é a comida que a gente compra com tanto esforço para os filhos. Nunca mais vou comprar dessa marca, se eu quisesse levar um monte de papelão, iria na papelaria.”
Em filas de açougues e mercadinhos da capital paulista, o consumidor que acordou com a notícia de venda de carne fora da validade, estragada e com substâncias que trazem riscos à saúde, ficou preocupado, mas sem saber o que fazer para não levar produto deteriorado para casa.
O restaurante em que Paola Tamires, de 29 anos, é cozinheira deixou de servir carne vermelha há uma semana, para desaprovação da clientela, desde que os donos começaram a reparar na má qualidade do produto que compravam para servir.
“Eu cozinho para cerca de cem pessoas todos os dias, em um setor em que a concorrência é tão acirrada que qualquer deslize na qualidade da comida pode custar a perda de clientes. Só por cortar a carne vermelha, devemos ter perdido uns 15 consumidores fiéis, mas não dava para arriscar servir daquele jeito. Agora, soubemos que o frango também tinha problema. Se a gente deixar de servir frango também, vamos servir o que para as pessoas?”
“Daqui a pouco, açougueiro vai ser igual a mecânico para muita gente, você só vai comprar de um em que confiar muito”, compara o auxiliar de cozinha Raimundo de Oliveira, de 35 anos. “Eu, que trabalho há muitos anos no setor de alimentos e ainda consigo ter uma noção melhor da qualidade da carne, às vezes compro gato por lebre. Imagina uma dona de casa que guarda o dinheiro curto para ir ao supermercado uma vez por semana. É muita maldade vender comida estragada.”
Na gôndola de frios de um mercadinho, a diarista Maria Elenice, 49 anos, olha desconfiada para a pilha de acém em promoção. “Está ficando cada vez mais difícil saber o que a gente deve ou não colocar no carrinho. Não se sabe a origem. Na semana passada, compramos alguns quilos de carne, dessas marcas famosas, que têm comerciais com artistas de novela, para comemorar o aniversário do meu marido. Descobri em casa que não prestava. Agora, só compro carne fresca, quando me animar de levar.”
Estratégia. O comerciante José Carlos Evaristo, de 56 anos, vai adotar estratégia parecida. Ele, que compra carne semanalmente, tanto para o consumo diário quanto para o churrasco de fim de semana, disse que sempre olha com atenção para o aspecto do produto, prazo de validade e procedência.
“A gente sabe que esse tipo de coisa ainda acontece, mas me espantei ao saber dessa operação da polícia. Agora, só venho fazer compras no dia de entrega da carne, para tentar levar o produto fresquinho. Nem assim me livro de levar um produto ruim. Às vezes, o aspecto da mercadoria congelada engana e só descobrimos que fomos enganados na hora de cozinhar.”
Em um açougue na zona Norte de São Paulo, o auxiliar de um cursinho preparatório para vestibulares, Peterson Francisco de Sousa, de 32 anos, rapidamente faz as contas de quantos churrascos tinha dado em casa no ano passado, bem menos do que antes da crise.
“Desse jeito é que os churrascos vão ficar cada vez mais raros. A verdade é que o consumidor tem poucos recursos para se defender. A gente escolhe um açougue de confiança, tenta ficar atento ao prazo de validade e desconfia de promoções muito boas. Só que no fim acabamos nos guiando pela aparência e ficamos nas mãos desses fornecedores aí”, diz Sousa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.