A comunhão no silêncio – perplexo com a beleza da peça Chopin ou o Tormento do Ideal, o público inicialmente não reage ao final do espetáculo. “De repente, começam algumas palmas tímidas, que vão crescendo até atingir a apoteose”, comemora Nathalia Timberg que, na peça, vive seu primeiro papel masculino: o compositor polonês Frederic Chopin (1810-1849).
O espetáculo terá apenas três apresentações, entre sexta, 1º, e domingo, 3, no Teatro Porto Seguro. Mas voltará em fevereiro, para uma temporada mais alongada. Preciosa chance para se acompanhar o monólogo de Nathalia, que parte de recortes textuais da vida de Chopin, cartas de George Sand entrelaçadas com declarações e poemas de Musset, Liszt, Baudelaire, Gérard de Nerval e Saint-Pol-Roux. E, como já acontecera em outra peça, 33 Variações, a atriz é acompanhada pela pianista Clara Sverner, que apresenta ao vivo os famosos prelúdios do polonês – um privilégio, uma vez que Clara foi indicada, em 2011, para o Grammy Latino pelo disco Chopin por Clara Sverner na categoria de melhor álbum de música clássica.
“É um espetáculo dirigido à sensibilidade”, observa Nathalia, que descobriu e traduziu o texto de Philippe Etesse. De fato, a emoção silenciosa que se espalha pela sala de espetáculo é justificada por Clara como uma busca pelo intimismo, viagem cada vez mais rara em tempos tecnológicos. “Há uma busca pelo romantismo”, diz ela, durante conversa com a reportagem.
Ouvinte atenta, Nathalia completa poeticamente: “O silêncio tem suas qualidades – pode tanto ser eloquente como opaco. Mas, no nosso caso, eu diria que é mais respeitoso que o aplauso”.
Uma das possíveis explicações para tamanho sucesso – o texto já foi encenado em Porto Alegre, Santa Maria, Salvador, Fortaleza e São Paulo, numa rápida exibição no Sesc 24 de Maio – é a perfeita união entre teatro e música clássica, algo que, na peça, é perfeitamente costurada pelo diretor José Possi Neto. “Diante de um texto tão delicado, as pessoas descobrem que, no mundo atual, sua sensibilidade precisa de um afago”, comenta Nathalia que, aos 86 anos, continua uma fervorosa defensora da arte teatral.
Afinal, depois da conversa com a reportagem, no início da tarde, a atriz gravou um vídeo diante do Teatro Brasileiro de Comédia, em apoio à preservação do espaço, e, em seguida, seguiu para o Teatro Oficina, onde ofereceu mais apoio, desta vez a José Celso Martinez Corrêa. “São duas pequenas ruas que guardam um tesouro cultural.”
CHOPIN OU O TORMENTO DO IDEAL
Teatro Porto Seguro. Alameda Barão de Piracicaba, 740, tel. 3226-7300. 6ª e sáb., 21h; dom., 19h. R$ 60/ R$ 80. Até 3/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.