Houve uma época em que os filósofos se preocupavam em encontrar resposta para uma questão essencial à compreensão desta experiência – arriscada, segundo Guimarães Rosa – que é a de viver. Eles se perguntavam: existe uma natureza humana?
Os de origem religiosa acatavam, de algum modo, em suas obras a ideia segundo a qual o homem já nasce marcado pelo Pecado Original. Estigma designado deste modo pela Igreja Católica porque, de acordo com a Doutrina Cristã, advém de ato imprudente de Adão e Eva. Pois, eles desprezaram uma advertência de Deus: a de que não deveriam comer um fruto do Jardim de Éden. No fruto havia um conteúdo perigoso produzido pela árvore em que nascera: a noção do Bem e do Mal. Curiosos, os antepassados de toda a Humanidade não resistiram à tentação de experimentar o fruto. E, com isto, se instalou na existência deles e de seus descendentes uma maldição: a eterna presença do mal, origem de todo sofrimento humano.
Os filósofos de origem marxistas não aceitaram esta ideia expressa de modo metafórico, quase poético, por este discurso religioso antigo. E, respondiam categoricamente: “Não existe natureza humana. O homem é fundamentalmente um ser social. Portanto, formado no convívio com as outras pessoas”.
Dentro da História da Humanidade, o século passado foi marcado pela disputa entre os defensores de dois dos grandes regimes político-econômicos. E nesta disputa, havia como pano de fundo, esta divergência filosófica.
Filosoficamente, o Capitalismo se sustenta na noção de que o ser humano é, por natureza, egoísta. Cuida de si e de sua família, em primeiro lugar. Ou, unicamente. E – acredita ainda quem aceita tal noção -, isto não é ruim. Ao contrário, é o que dá energia e motivação às pessoas.
O socialismo se sustentou na suposição de que as pessoas seriam solidárias e generosas, dentro de sociedades planejadas com o objetivo de atender fraternalmente às necessidade de todos os seus membros.
Infelizmente, as experiências socialistas fracassaram. Os responsáveis pela administração delas agiram com o egoísmo cultuado pelo Capitalismo. Formaram castas de burocratas ansiosos por poder de mando e privilégios.
Restou, hoje, apenas a chamada democracia burguesa dos regimes capitalistas. Uma democracia sobre a qual Winston Churchill disse ser a pior forma de governo imaginável. Para acrescentar em seguida, “com exceção de todas as outras”.
Nós, brasileiros, sabemos bem quanta razão tinha o primeiro-ministro inglês, histórico e brilhante. Afinal não vivemos numa democracia assim? Temos imprensa livre, é verdade. Mas não escapamos da maldição dos políticos corruptos.