Líder das pesquisas de intenção de voto e com chances de vencer a corrida pelo Palácio do Planalto no primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem apelado publicamente para que o eleitor não falte às urnas no dia 2 de outubro. A preocupação do petista diz respeito ao eleitorado mais pobre, que registra maior abstenção e que, majoritariamente, o apoia contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mas há outra estatística que pode favorecer Lula: as mulheres se apresentam mais para votar. O cientista político e pesquisador Jairo Nicolau afirmou que, no primeiro turno de 2018, o porcentual de comparecimento feminino foi de 80,4% e o masculino, de 79,2%. Por outro lado, estudo feito por ele reafirma que pessoas de baixa renda tendem a faltar mais.
"No caso de Lula, talvez uma coisa fique pela outra, mas é difícil saber", disse Nicolau, que não vê motivos para acreditar numa maior abstenção. "Devemos seguir o padrão de eleições anteriores, um pouco acima ou abaixo."
Segundo o último Datafolha, Lula tem 49% entre as mulheres, ante 29% de Bolsonaro. Na camada mais pobre da população, que representa 51% do eleitorado, o petista é preferido por 57%, ante 24% que votam em Bolsonaro.
Na entrevista concedida ao <i>Programa do Ratinho</i>, do SBT, anteontem, Lula pediu para que as pessoas compareçam às urnas. "Você que não gosta de ninguém, por favor, vá para a urna, vote, escolha quem você acredita que vai consertar esse País, mas vote. Se você não for votar, não vai poder cobrar nada de ninguém."
<b>ECONOMIA</b>
O professor de Ciência Política Emerson Urizzi Cervi, da UFPR, citou outros dados, além da participação feminina, que equilibram a conta a favor do ex-presidente. "Municípios pequenos têm menores taxas de abstenção e seus moradores tendem a apoiar Lula. Olhando a conjuntura política, eu diria que é possível termos neste ano até mesmo uma quebra na série histórica de alta gradual da abstenção." Entre 2006 e 2018, o índice de pessoas que deixaram de votar passou de 16,7% para 20,3%.
Uma das apostas de Cervi para uma mudança na curva é a atual crise econômica, marcada por inflação alta, queda de renda e desemprego. A superintendente da Fundação Tide Setúbal, a economista Mariana Almeida, ressaltou que a mulher, especialmente, sente mais a alta do preço da cesta básica, por exemplo, e a queda na qualidade de vida de sua família. "Isso pode realmente gerar uma maior participação das pessoas que buscam melhora em seu dia a dia."
Cervi também leva em conta o nível de conhecimento dos candidatos desta eleição, polarizada entre um presidente e um ex-presidente. "Nunca tivemos isso. E, se eleitor normalmente decide de maneira retrospectiva, nesta eleição a comparação é mais direta. Não é à toa que as maiores taxas de brancos, nulos e indecisos está entre os mais jovens, que não viveram os dois governos."
Nicolau afirmou, ainda, que a biometria realizada pelo TSE nos últimos anos também pode reduzir o porcentual de abstenção. Segundo dados da Corte, mais de 118 milhões de eleitores poderão votar usando cadastro biométrico. Em 2018, foram 73,7 milhões. Ou seja, passou de 50% para 75%.
"Boa parte da abstenção que não é política se deve ao fato de os eleitores estarem fora de seu domicilio eleitoral. Isso tende a ser reduzido com a biometria, que recadastra os eleitores, fazendo uma limpa e tornando o cadastro mais real."
O professor de Direito da USP Renato Ribeiro destacou que mais de 2 milhões de jovens com menos de 18 anos tiraram o título de eleitor neste ano. "É um movimento que gera expectativa de maior participação", afirmou.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>