O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil recuou no ano passado para o mesmo nível que o País tinha há oito anos, em 2014. Em geral, de acordo com o relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), da Organização das Nações Unidas, 90% dos países registraram queda no IDH, resultado da pandemia de covid-19 e das sucessivas crises e incertezas que ela trouxe.
Esse recuo brasileiro, o segundo seguido, foi maior do que a média. "O desenvolvimento humano voltou aos níveis de 2016, revertendo parte expressiva do progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)", diz a ONU.
De acordo com o relatório, o IDH do Brasil, que era de 0,758, em 2020, caiu para 0,754 em 2021. O índice é composto por variáveis como renda, expectativa de vida ao nascer e escolaridade. Quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho. No ranking de desenvolvimento dos países, o Brasil caiu três posições, passando de 84.º colocado para 87.º.
O Brasil está no grupo de 40% das nações com registro de queda no índice pelo segundo ano consecutivo. Em 2019, o IDH brasileiro era de 0,766. Em 2020, 0,758. Para a professora da Escola de Saúde Pública de Harvard Márcia Castro, o recuo não surpreende. "Já era esperado. Tivemos queda nos principais índices de saúde, renda e educação. A pandemia no Brasil acabou tendo um efeito maior por causa da forma como o País respondeu", diz. "A demora em adquirir vacinas, negar a gravidade da doença e o caráter regional (com Estados e municípios tentando contornar a demora federal) mostravam que isso era inevitável."
O documento do Pnud diz que, "embora alguns países estejam começando a se levantar, a recuperação é desigual e parcial, ampliando ainda mais as desigualdades no desenvolvimento humano", ressaltando que a América Latina, o Caribe, a África Subsaariana e o sul da Ásia, em particular, foram duramente atingidos. Um dos componentes do IDH, a expectativa de vida ao nascer do brasileiro recuou de 74 anos, em 2020, para 72,8, em 2021, a menor em 12 anos.
A diferença de 1,2 ano pode ser creditada à pandemia, mas não só, dizem os especialistas. Cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Claudio Couto vê nos dados o reflexo das escolhas do governo federal. "A pandemia sobrecarregou o sistema de saúde, mas não só para os casos de covid", afirma. "As outras doenças acabaram sendo negligenciadas. É tudo isso que está refletido agora." Procurado, o governo federal não se manifestou.
<b>Futuro</b>
O relatório faz um diagnóstico desanimador sobre a recuperação dos países, ao dizer que as mudanças necessárias não estão acontecendo por razões como a insegurança e a polarização. "Novos cálculos mostram, por exemplo, que aqueles que se sentem mais inseguros também são mais propensos a ter visões políticas extremistas."
A queda do Brasil para a 87.ª posição indica a necessidade de o País agir rápido. Mais importante do que o lugar no ranking, porém, é o valor do IDH. "Como as agências nacionais e internacionais melhoram suas séries de dados, as informações – incluindo os valores e classificações do IDH – apresentadas neste relatório não são comparáveis aos publicados em edições anteriores", pondera a entidade.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>