Nova diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Adriana Kugler disse que vê riscos equilibrados para o cumprimento do mandato da instituição, no seu primeiro discurso no cargo. Ela ponderou que o contínuo desaquecimento da inflação e do mercado de trabalho poderá tornar apropriado cortar juros em algum momento. Por outro lado, caso o processo de desinflação estagne, poderá ser preciso manter juros no nível atual por mais tempo, disse Kugler.
"Resumindo, estou satisfeita com o progresso da inflação e otimista de que continuará, mas estarei atenta aos dados econômicos para verificar a continuação deste progresso", afirmou ela, frisando que o "trabalho do Comitê Federal de Mercado aberto, o Fomc não acabou".
A dirigente destacou a desaceleração do índice de preços de gastos com consumo (PCE). Kugler disse que muito da desinflação vem do setor de bens. O setor de serviços teve menos progresso, mas ela reforçou que vê razões para otimismo.
A diretora disse que a continuidade da desinflação dependerá bastante no núcleo do setor de serviços excluindo habitação – explicando que as medidas de inflação de serviços de habitação são naturalmente persistentes.
Kugler afirmou ainda que as expectativas de inflação permaneceram razoavelmente bem ancoradas. Entretanto, levantou que o consumo poderá surpreender novamente neste ano, o que potencialmente afetaria a desinflação. Mas a sua projeção é de que os gastos do consumidor aumentem mais lentamente em 2024 em relação a 2023.
<b>Em toda reunião pode haver mudanças</b>
A diretora do Federal Reserve afirmou que em toda reunião do banco central norte-americano pode haver mudança na política monetária.
Questionada sobre uma possível mudança nas taxas já na próxima reunião, de março, ela disse que não é possível afirmar agora que ocorrerá manutenção da política, pois ainda haverá indicadores importantes até lá, inclusive da inflação e do mercado de trabalho.
Adriana Kugler falou em evento do Brookings Institution. Segundo ela, o ritmo das reduções nos juros, quando o processo de relaxamento começar, também dependerá dos dados, por isso não é possível saber agora se o Fed pode agir com mais ou menos pressa no processo de corte nas taxas.
A diretora do Fed avaliou que, neste momento, os riscos de alta ou de baixa na inflação "estão em geral equilibrados", o que justifica a postura cautelosa.
Ela também descartou que tenha ocorrido até agora uma espiral de alta nos preços nos EUA.
<b>Tensões geopolíticas</b>
Outros riscos altistas para a inflação são as tensões geopolíticas – conflitos entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio.
Já uma eventual desaceleração mais significativa na Europa e na China representaria um risco baixista.
<b>Mercado de trabalho</b>
Do lado do mercado de trabalho, ela comentou que viu uma tendência de redução no crescimento de salários. Kugler falou que a "recente experiência de desinflação tem sido sustentada sem uma alta significativa no desemprego".
"Espero que o aumentos nos empregos continue; no entanto, a história mostra que as condições do mercado de trabalho podem mudar rapidamente", alertou a dirigente.
<b>Setor imobiliário</b>
Adriana Kugler disse também que está prestando atenção no setor imobiliário comercial (CRE, na sigla em inglês) como uma possível fonte de vulnerabilidade para a estabilidade financeira dos EUA.
"Acho que é algo que precisamos continuar monitorando", afirmou ela, em evento do Brookings Institutes. "Não sabemos ao certo, mas estamos monitorando bem de perto."