O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou a desaceleração da inflação na margem, mas ponderou que, em termos de política monetária, é necessário ver mais dados e acompanhar a dinâmica inflacionária, até porque há incerteza sobre alguns preços importantes, como o petróleo. Ele citou, durante sua participação em reunião com investidores em Londres, os cortes recentes de produção da Opep e disse que o mercado está entendendo que há menor chance de preços mais baixos da commodity.
Citando como positivo o anúncio do arcabouço fiscal pelo governo também, o presidente do BC repetiu diversas vezes que a autoridade monetária acompanha diversas variáveis para a condução da política monetária, como projeções e expectativas de inflação, preços de mercado e de commodities. "O que temos tentado comunicar é que muitas dessas variáveis se deterioram desde dezembro."
O presidente do Banco Central afirmou ainda que o índice geral de inflação foi afetado pelas mudanças de impostos que ocorreram no preço da energia, telecomunicações e da gasolina. Ele acrescentou que em um cenário de expectativas de inflação muito maiores do que a meta no horizonte, mesmo com uma desaceleração da economia ocorrendo, é preciso olhar para essa dinâmica de forma mais cuidadosa.
Campos Neto comentou as críticas sobre a taxa de juro real no Brasil ser maior do que em muitos países.
O presidente da autarquia argumentou que na comparação com países como México e Chile não há tanta diferença e que não é possível compará-la com a de países desenvolvidos, porque há dinâmicas diferentes de inflação e dos canais de ação da política monetária.
Ele admitiu, porém, que a taxa brasileira é maior do que a de alguns outros países do mundo, mas destacou que essa diferença tem diminuído ao longo dos anos.
<b>Metas de inflação</b>
O presidente do Banco Central reforçou que a autoridade monetária não decide sobre a meta de inflação, mas disse que a recomendação do BC é de que uma mudança "não deveria ser feita". "Não decidimos sobre meta, mas nossa recomendação é de que não deveria ser feita mudança."
Segundo Campos Neto, a avaliação é de que uma mudança de meta aumentaria o prêmio de risco. Com base em pesquisas e no comportamento do mercado hoje, a interpretação é de que um aumento da meta levaria a um avanço ainda maior das expectativas de inflação. "Hoje a interpretação é de que mudança de meta não daria flexibilidade em política monetária", disse, acrescentando, que, no longo prazo, a mudança traria prejuízo.
O presidente do BC ainda lembrou que, independente do efeito produzido, uma eventual mudança de meta não traria impacto imediato sobre a política monetária, já que sua condução precisa avaliar primeiro a evolução das expectativas de inflação.
Hoje, a meta de inflação está em 3,25% para 2023 e 3,00% para 2024 e 2025, com banda de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Em uma verdadeira ofensiva contra a taxa Selic de 13,75%, o governo federal tem questionado também o nível das metas, que são definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Em relação à condução de política monetária, Campos Neto ressaltou que o mandato do BC é colocar a inflação na meta. "Queremos fazer isso e é o melhor que podemos fazer pelo Brasil. O Brasil tem um mecanismo muito forte de indexação e é ainda mais importante impedir isso", disse, lembrando que a inflação alta prejudica mais as classes mais pobres.
<b>Atividade</b>
O presidente do Banco Central afirmou que a autarquia já vê a atividade desacelerando em resposta ao aperto monetário. Ele acrescentou, porém, que está esperando quais serão os efeitos sobre a atividade dos recentes anúncios na área econômica do governo.
"O setor de serviços está com desempenho um pouco melhor, mas a indústria está desacelerando, embora estável", disse Campos Neto, acrescentando que o consumo está desacelerando devagar na margem. O presidente da autarquia emendou que há uma moderação no mercado de trabalho, embora os dados ainda indiquem certa resiliência.
Campos Neto também disse que a desaceleração global provavelmente deve contribuir para o processo local de desaceleração e que ainda é preciso ver os efeitos das questões de estabilidade financeira pelo mundo. O presidente do BC emendou que a desaceleração no crescimento do crédito parece estar atingindo de forma países desenvolvidos do que emergentes.
O presidente do BC participou de reunião com investidores em Londres, organizada pelo European Economics & Financial Centre (EEFC).