Esforços para liberar grãos retidos pela guerra entre Rússia e Ucrânia progrediram nesta quarta-feira (1º), após um alto funcionário russo aprovar o papel da Turquia na remoção de minas na região do Mar Negro e uma autoridade dos Estados Unidos dizer que Washington está trabalhando para impedir que as sanções bloqueiem as exportações russas.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem liderado discussões para encontrar uma maneira de liberar grãos e óleo de girassol retidos em portos ucranianos no Mar Negro – e levar grãos e fertilizantes russos aos mercados mundiais. Poucos veem uma solução fácil, tendo em vista a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas autoridades da ONU estão buscando um caminho para ajudar a desacelerar a alta global dos preços de alimentos e evitar uma possível crise humanitária.
Se o plano for bem-sucedido, a Turquia desempenhará um papel na remoção de minas e garantirá que os navios da marinha russa permitam a passagem segura de cargueiros para fora da Ucrânia, dizem diplomatas. Guterres também está pedindo a Washington que tome medidas para evitar que grãos e fertilizantes da Rússia sejam pegos em seu regime de sanções.
O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que deve se reunir com seu colega turco na próxima semana, disse que o presidente Vladimir Putin e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, fizeram progressos na questão do embarque de grãos na segunda-feira.
"Os colegas turcos tentarão ajudar a organizar a remoção das minas dos portos ucranianos, para liberar navios que foram retidos com cargas necessárias para os países em desenvolvimento", disse Lavrov em coletiva de imprensa nesta quarta-feira na Arábia Saudita. "Essa operação ocorrerá sem nenhuma tentativa de fortalecer o potencial militar da Ucrânia e causar danos à Federação Russa". Lavrov disse que os detalhes serão discutidos entre representantes militares e especialistas.
A Turquia não confirmou nenhum acordo, mas disse que está em negociações com a Rússia para estabelecer uma rota marítima segura para exportar alimentos da Ucrânia, com navios de guerra turcos protegendo uma rota, disseram autoridades. "Dissemos sim a isso em princípio", disse o ministro de Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, em comentários publicados pela agência de notícias estatal turca na terça-feira. "Ainda não houve um consenso completo sobre essa questão."
Um enviado da ONU deve se reunir com autoridades do governo russo nesta quinta-feira (2) para discutir a abertura dos portos ucranianos para alimentos. Um porta-voz de Guterres não quis comentar o assunto.
Diplomatas que acompanham as negociações notaram sinais positivos, mas disseram que os detalhes da operação de transporte são complexos. Autoridades ucranianas vão querer garantias de que a remoção de minas não deixará sua costa desprotegida, enquanto Moscou provavelmente não aceitará regras rígidas sobre suas operações navais no Mar Negro, disseram os diplomatas. Embora a Turquia tenha um papel internacional aceito na gestão do tráfego do Mar Negro, também é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que apoiou a Ucrânia contra a Rússia.
<b>Crise alimentar</b>
A Ucrânia acusou a Rússia de orquestrar deliberadamente uma crise alimentar mundial. "Se não encontrarmos uma solução para esse desafio, o mundo terá problemas e crises alimentares em muitos países", disse o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, em entrevista em Kiev nesta semana.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que cerca de 85 navios carregados com grãos no porto de Odessa não podem se deslocar por causa do bloqueio efetivo da Rússia, e que há entre 20 milhões e 25 milhões de toneladas de grãos em silos nas proximidades.
Países europeus estão procurando rotas alternativas para enviar grãos ucranianos por rios, estradas e ferrovias, mas essas rotas só poderão movimentar uma fração da quantidade que normalmente é embarcada em navios. A Ucrânia exportou 41,5 milhões de toneladas de milho e trigo na temporada 2020/21, e mais de 95% desse volume foi enviado pelo Mar Negro, segundo a corretora de grãos ucraniana Maxigrain.
Putin disse que a Rússia poderá exportar "volumes significativos" de grãos em troca da remoção de sanções relevantes, de acordo com o relato do Kremlin sobre sua ligação com Erdogan.
Autoridades dos EUA destacaram que alimentos e fertilizantes russos não estão incluídos em suas sanções contra o Kremlin e a economia russa, e que Washington não vai cancelar as sanções a Moscou.
Ainda assim, Washington nesta semana sinalizou uma prontidão para trabalhar com países, traders e bancos que estejam hesitantes em negociar alimentos ou fertilizantes russos. Blinken disse nesta quarta-feira que os EUA enviaram um alto funcionário ao redor do mundo para "deixar isso muito claro para outros países e ajudá-los com qualquer dúvida que possam ter". Fonte: Dow Jones Newswires.