Estadão

Neotucano carregou fardo de manter principal trincheira do PSDB no País

Um ano e meio depois de se filiar ao PSDB após quase três décadas no PFL/DEM, o governador Rodrigo Garcia, de 48 anos, tem a responsabilidade de manter os tucanos com algum destaque na política nacional e preservar a hegemonia da legenda em São Paulo. Na primeira eleição em que o PSDB não contou com um candidato próprio à Presidência da República, o advogado e sucessor de João Doria no Palácio dos Bandeirantes tornou-se a prioridade nacional do partido.

Garcia ficou ao longo da campanha mais à vontade para exibir o "legado" de 28 anos do partido no Estado e teve a seu favor uma máquina política com dez partidos na coligação, mais de 500 prefeitos alinhados e quase o dobro do tempo de TV dos adversários no horário eleitoral.

Em condições normais, esse portfólio colocaria Garcia como favorito, especialmente em um pleito que rejeitou outsiders e no qual a ampla maioria dos governadores no exercício do mandato lideram as pesquisas. A campanha, porém, está longe de ser normal.

"Temos chances reais de eleger dois governadores: Eduardo Leite (no Rio Grande do Sul) e Rodrigo Garcia. Eles representam a possibilidade de o PSDB voltar a ser um grande partido nacional. Mas é preciso ter uma linha política definida que resgate o ideário social democrata", disse ao <b>Estadão</b> o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Aloysio classifica Garcia como um "primo" do PSDB que entrou no partido após ter atuado sempre ao lado da sigla quando era um jovem do PFL/DEM.

<b>Nem esquerda nem direita</b>

Em uma tentativa de quebrar a polarização, a campanha de Garcia o apresentou como um político pragmático e que corre por fora de disputas ideológicas. É a mesma receita que funcionou com os tucanos nas últimas décadas, exceto com Doria, que abraçou com força o antipetismo.

"Essa é uma campanha em que o PSDB não tem candidato presidencial e está amarrada pela polarização entre Lula e Bolsonaro. Mas essa ofensiva enorme pelo voto útil nacional não contaminou São Paulo", disse, esperançoso, o dirigente tucano Carlos Balotta, integrante da Executiva Estadual do PSDB e um dos coordenadores da campanha de Garcia.

Com uma estrutura muito superior à de seus adversários, o tucano apostou em uma narrativa arriscada: mesmo representando a situação, se apresentou como terceira via. Alvo preferencial de Fernando Haddad (PT), candidato de Lula, e de Tarcísio Freitas (Republicanos), nome de Jair Bolsonaro (PL), que tentam ir juntos para o segundo turno para replicar a polarização presidencial, Garcia dividiu sua defesa entre os dois, enquanto martelava o mote "nem esquerda nem direita, pra frente".

<b>Ataques</b>

Na prática, porém, atacou o "forasteiro" Tarcísio, que é carioca, mas preservou e até fez gestos de aproximação com Bolsonaro, de olho nos eleitores conservadores e de direita que foram a sua base política nos tempos do DEM/PFL. Em um discurso de campanha no interior, o tucano chegou a pedir ao bolsonarista Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, que transmitisse "um abraço" ao presidente da República.

O governador disse, durante sabatina no <b>Estadão</b>, que o duelo de ideologias levou o presidente Jair Bolsonaro (PL) a reduzir o volume de recursos repassados ao Estado, embora não tenha detalhado quais verbas tenham sido suspensas. O chefe do Executivo é adversário político do ex-governador de São Paulo João Doria, e ambos protagonizaram diversos embates nos últimos anos, sobretudo durante a pandemia. Se eleito, Garcia afirmou que o "diálogo deve prevalecer" entre ele e o próximo presidente, seja ele quem for. "Não dá para o Brasil viver mais quatro anos de desalinhamento entre os Poderes", disse.

É no interior que está a maior infantaria de Garcia. Além das máquinas dos prefeitos alinhados, o exército do tucano tem 1,1 mil candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa. Com estilo que lembra o ex-governador Geraldo Alckmin (hoje no PSB), ele mantém o sotaque caipira e sempre que pode recita obras do "legado" tucano, sem deixar de mencionar Mário Covas, na tentativa de dialogar diretamente com os eleitores mais fiéis ao tucanato no Estado.

"Esta é uma eleição diferente, esquisita. Dentro dessa polarização, o que o Rodrigo fez foi um milagre. É muito difícil não ter padrinho em uma disputa dessa. Nosso maior desafio agora é a capital, o ABC paulista e os grandes centros", disse o deputado federal Junior Bozella (SP), vice-presidente do União Brasil em São Paulo.

Ao subir o tom nos ataques ao PT, Garcia adotou a estratégia de pregar voto útil na reta final, de olho no segundo turno. Pesquisas de intenção de voto mostram Tarcísio à frente na corrida pelo Bandeirantes, com Haddad na liderança. "Haddad é um leão comigo, mas um gatinho com o Tarcísio", disse o tucano em uma gravação nas redes sociais. Sua propaganda vende a ideia que "só Rodrigo pode vencer Haddad no segundo turno". Essa linha tem como premissa a estratégia do próprio PT, que, ciente do antipetismo enraizado no interior, sabe que tem mais chances de vitória se formar uma frente anti-Bolsonaro.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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