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Netanyahu adia reforma judicial em meio a sinal de dissidência em coalizão

Pressionado por uma greve geral e com sinais de dissidência nas Forças Armadas e em sua coalizão, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, concordou nesta segunda, 27, em adiar a última votação da reforma do Judiciário que amplia os poderes do Executivo na nomeação de juízes e é apontada por especialistas como uma ameaça à democracia do país.

A decisão foi tomada após milhares de israelenses saírem às ruas espontaneamente entre domingo e ontem depois que o premiê demitiu seu ministro da Defesa que criticou o projeto de lei. Em pronunciamento, Netanyahu disse que congelará a reforma temporariamente para um "diálogo real".

<b>Resistência</b>

O maior grupo sindical de Israel, Histadrut, que representa quase 800 mil trabalhadores das áreas de saúde, trânsito e bancos, liderou uma greve geral ao longo do dia de ontem, o que aumentou a pressão sobre Netanyahu para suspender a reforma. Após um dia inteiro de negociação com sua coalizão, Netanyahu concordou em adiar a votação para maio. O movimento, dizem analistas, pode amenizar, mas não deve conter a crescente onda de protestos.

A resistência ao plano de Netanyahu ganhou força depois que ele demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, que havia alertado para os riscos à democracia e pedido uma pausa na reforma.

Pela manhã, em meio à paralisação, que afetou de lojas do McDonalds ao principal aeroporto de Israel, em Tel-Aviv, milhares de manifestantes se reuniram diante do Parlamento para manter a pressão sobre o premiê, que ampliou a cisão em sua coalizão. Enquanto dois ministros mais moderados sinalizavam romper com o governo caso ele não suspendesse a reforma, o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de extrema direita, prometeu renunciar se o premiê retirasse a reforma.

A renúncia de Ben-Gvir poderia levar à dissolução da coalizão e a novas eleições se Netanyahu não conseguisse negociar com outros partidos para ter a maioria de 61 assentos no Parlamento. Com isso, o premiê prometeu ao ministro suspender o projeto pelo menos até maio e adotar medidas para tentar acalmar a crise, entre elas a criação de uma guarda nacional sob o comando do líder do partido radical Otzma Yehudit.

"Netanyahu quer manter sua coalizão o quanto conseguir, por isso ele decidiu demitir Gallant, que tomou o partido dos mais liberais nas Forças de Defesa e Segurança de Israel", avalia Ido Zelkovitz, pesquisador e professor no Departamento de História do Oriente Médio na Universidade de Haifa. "Em vez de ficar ao lado dos mais liberais, Netanyahu decidiu manter sua coalizão viva. Neste momento, ele preferiu escolher Ben-Gvir em vez de Gallant."

<b>Negociações</b>

A intenção ao adiar a votação é, além de buscar conversar com sua coalizão e a oposição, é ver se os protestos diminuem conforme os feriados do Ramadã e da Páscoa Judaica começam. Mas, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a tendência é que os protestos continuem, pois a demanda é que a reforma seja cancelada, não apenas congelada.

"Netanyahu está ganhando tempo", disse Karina Calandri, coordenadora de programas e projetos do Instituto Brasil-Israel (IBI) e doutora em Relações Internacionais. "Ele vai ter pelo menos mais duas semanas (após o feriado de Pessach) para talvez negociar com outro partido político e manter a coalizão. Mas também os opositores querem tirar Netanyahu do poder, então ele está numa situação em que está apostando em tudo o que tem."

A decisão de Netanyahu foi celebrada dentro e fora de Israel. Opositores comemoraram, embora vejam com desconfiança a decisão ter vindo somente agora. Os EUA, que foram os aliados que fizeram a crítica mais contundente a Netanyahu, celebraram a decisão "como uma oportunidade para criar mais tempo e espaço para um compromisso". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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