O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse nesta quarta-feira, 25, em pronunciamento na TV, que "todos terão de responder (pelo ataque do Hamas), incluindo eu, mas isso só acontecerá depois da guerra". O comentário foi feito após ele dizer que o Exército está se preparando para uma operação terrestre em Gaza, que foi decidida por unanimidade pelo gabinete de guerra.
O governo de Israel ainda não explicou por que foi incapaz de prever o ataque que deixou pelo menos 1,4 mil mortos e também não esclareceu o motivo da demora em reagir à investida do Hamas. As declarações de Netanyahu foram talvez sua resposta mais clara para a indignação popular aos lapsos de segurança. "Esta falha será investigada minuciosamente", afirmou.
Segundo Netanyahu, Israel irá "cobrar o preço dos assassinos". "Não posso dizer quando, como ou quantas (incursões em Gaza) existirão", disse o premiê, em seu pronunciamento veiculado em horário nobre.
"Como primeiro-ministro, sou responsável por garantir o futuro do país . Neste momento, é minha responsabilidade liderar o Estado de Israel e o povo a uma vitória esmagadora sobre os nossos inimigos. Agora é a hora de nos unirmos em prol de um objetivo: avançar rumo à vitória."
Netanyahu também voltou a ligar a facção palestina ao Estado Islâmico. O primeiro-ministro disse que Israel está contando com a ajuda de líderes mundiais, que agora compreendem que "o Hamas é o Estado Islâmico, e o Estado Islâmico é o Hamas".
<b>Invasão</b>
Segundo o jornal <i>Wall Street Journal</i>, Israel aceitou adiar a invasão de Gaza para que os EUA instalem mais sistemas de defesa aérea na região, inclusive para proteger as tropas americanas, segundo autoridades americanas e negociadores a par dos planos militares israelenses.
Enquanto milhares de tanques e reservistas aguardam a ordem de invasão, os caças da Força Aérea seguem castigando o enclave palestino. Ontem, a ONU alertou que Gaza está quase sem combustível, o que poderia causar a paralisação do socorro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 12 dos 35 hospitais do território já não funcionam mais. A população está ficando sem alimentos, água e medicamentos. Cerca de 1,4 milhão dos 2,3 milhões de residentes foram deslocados e estão vivendo em abrigos da ONU.
Militares israelenses disseram que os bombardeios de ontem mataram militantes do Hamas e destruíram túneis, centros de comando, depósitos de armas e outros alvos militares. O governo de Israel acusa o grupo terrorista de ampliar o sofrimento dos civis ao esconder os seus combatentes entre eles.
O Ministério da Saúde do território disse que mais de 750 pessoas foram mortas nas últimas 24 horas – o total de mortos desde o início da guerra passa de 6,5 mil, segundo os palestinos. O número não pôde ser verificado de forma independente pelas agências de notícias.
<b>Conselho</b>
As discussões sobre o conflito em Gaza seguiram ontem no Conselho de Segurança, que vetou dois novos projetos de resolução sobre a guerra – um proposto pela Rússia e outro pelos EUA. A resolução russa pedia novamente "um cessar-fogo humanitário", mas foi vetada pelos americano.
O texto proposto pelos EUA chamou o ataque do Hamas de "terrorismo bárbaro" e mencionava a necessidade dos países reconhecerem explicitamente o "imperativo dos Estados de se defenderem". A resolução americana foi vetada por Rússia e China.
Na última semana, uma resolução elaborada pelo Brasil, que havia recebido 12 votos a favor, foi vetada pelos Estados Unidos. A representante dos EUA disse que a proposta brasileira foi contemplada na nova resolução apresentada ontem, também rejeitada.
<b>Filho do premiê é criticado por retiro em Miami</b>
Yair Netanyahu, filho mais velho do premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, nunca foi uma figura popular. Aos 32 anos, podcaster e ativista, ele está em Miami desde abril, para onde foi mandado depois de quase implodir o governo do pai com mensagens incendiárias nas redes sociais.
Normalmente, o retiro de Yair passaria incólume não fosse um detalhe: ele é reservista e faz parte do departamento de comunicações do Exército. As fotos do podcaster tomando sol em Miami Beach não caíram bem entre os soldados israelenses, que se queixaram da ausência do rapaz em um momento delicado para Israel.
Cerca de 360 mil reservistas – como Yair – foram convocados para defender o país e muitos estão mobilizados na fronteira de Gaza. "Yair está aproveitando a sua vida em Miami, enquanto estou na linha de frente", reclamou um soldado, que não foi identificado pelo jornal britânico The Times.
"Voltei dos EUA, onde tenho um emprego, uma vida, minha família", disse outro reservista ao jornal. "Não posso ficar lá e abandonar o meu país neste momento crítico. Mas onde está o filho do primeiro-ministro? Por que ele não está em Israel?"
<b>Carreira</b>
Não é a primeira vez que Yair causa constrangimento ao pai. Em 2018, ele apareceu em um vídeo do lado de fora de um clube de strip-tease de Tel-Aviv. Na gravação, ele menciona um acordo de gás fechado pelo governo no valor de US$ 20 bilhões que beneficiava um magnata dos negócios. Posteriormente, ele se desculpou.
Em novembro de 2020, Yair lançou seu próprio podcast – chamado The Yair Netanyahu Show -, com episódios em inglês e hebraico. Seu primeiro convidado foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
No início do ano, a emissora Chanel 12 relatou que o premiê pediu que Yair parasse de contatar ministros para exigir uma posição mais dura em favor da reforma do Judiciário. Até agora, a família Netanyahu diz que as denúncias contra o filho do premiê são "mentiras" e não passam de perseguição política. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>