Variedades

Ney Matogrosso e Nação Zumbi se anulam em show com músicas dos Secos & Molhados

Fechando a programação do Palco Sunset na sexta-feira, 22, Ney Matogrosso e a Nação Zumbi relembraram o tempo em que o cantor fez parte de um fenômeno musical/comportamental chamado Secos & Molhados. Desde sua saída da banda, em 1974, Ney evitava fazer shows com o repertório da banda da qual fez parte ao lado de João Ricardo e Gerson Conrad. Por conta disso, a apresentação foi uma das mais esperadas e concorridas desta edição do Rock in Rio.

Não se trata de um resgate. Afinal, o repertório do Secos & Molhados está aí, vivo e circulando. Mas era uma oportunidade para que Ney, um dos grandes intérpretes do Brasil de todos os tempos, pudesse relembrar aquelas canções clássicas ao lado de uma das maiores bandas nacionais.

Um vídeo, exibido antes do show, tornou-se essencial para entender como se deu o encontro – e seu resultado final. Nele, o cantor diz que a ideia de mexer com o repertório dos Secos não partiu dele, e sim da Nação Zumbi.

Ao lado de Jorge Du Peixe, vocalista da Nação, Ney iniciou o show cantando Mulher Barriguda.

Os problemas dos quais a apresentação iria padecer já foram escancarados aí. Ney e Du Peixe – uma voz aguda, outra grave – cantaram juntos a maior parte do tempo. Durante todo o show, se anularam vocalmente.

A personalidade dos dois se perdia, música a música.

Na tentativa de encontrar um tom confortável para ambas as vozes, as interpretações foram aquém do esperado. O som também apresentou problemas e contribuiu para que a coisa ficasse ainda mais confusa, com o baixo de Dengue mais alto que os outros instrumentos.

Em Assim Assado, com seus movimentos libidinosos, Ney mostrou que, aos 76 anos, mantém seu poder de sedução como showman. Ele não soube, porém, disfarçar certa insegurança como coadjuvante em Um Sonho, do repertório da Nação. Durante a música, imagens de Chico Science, antigo vocalista da banda, morto em 1996, apareciam em um telão no fundo do palco.

O show também recuperou Tem Gente com Fome. A música foi proibida e os Secos não puderam gravá-la (Ney acabou registrando a música no álbum seu tipo, de 1979). Antes de cantá-la, Du Peixe fez um discurso contra os políticos, estimulando gritos de “Fora, Temer”. “É isso aí, Fora, Temer”, disse ele. Ney se manteve discreto.

Enquanto Sangue Latino foi executada de maneira apenas correta, Maracatu Atômico levantou o público e estimulou a interação entre Ney e Du Peixe. O que não aconteceu em Fala. Ney revisitou a canção de João Ricardo e Luhli recentemente, no show Beijo Bandido, no mesmo tom da gravação original de 1973. O que se viu na Cidade Do Rock foi uma música sem brilho.

A lembrança de Refazenda valeu mais pela pegada impressa pela banda. No fim, com A Ordem É Samba e Quando a Maré Encher, o destaque foi a percussão. Naquele vídeo exibido antes da apresentação, o baterista Pupillo afirmou que eles tentariam fazer um show histórico. Não conseguiram.

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