O jornal mais antigo da Nicarágua, o <i>La Prensa</i>, teve de suspender a circulação de sua edição impressa nesta quinta-feira, 13, devido à falta de papel para a publicação. Segundo o diário, o material está retido pelas autoridades alfandegárias locais. O periódico de oposição acusa o governo do presidente Daniel Ortega de ser o responsável pelo "sequestro de papel".
Essa não é a primeira vez que o jornal enfrenta problemas com o fornecimento do material. Segundo o veículo, a retenção começou a ocorrer em 2019. Fundado há 95 anos, o periódico <i>La Prensa</i> é o único com versão impressa no país.
"Não poderemos fazer edições impressas até que eles liberem nossa matéria-prima, mas eles não irão nos silenciar", afirmou o veículo por meio de sua versão online, que continua funcionando.
O jornal afirma que a retenção ocorreu porque as autoridades aduaneiras não aprovaram um pedido de exoneração de impostos para o material feito em 26 de julho. A Constituição da Nicarágua prevê isenção na importação de papel e outras matérias-primas para os meios de comunicação. Ainda de acordo com a lei, as autoridades teriam prazo máximo de 10 dias para responder ao pedido.
<b>Prisão de opositores</b>
Desde fevereiro do ano passado, quando o Parlamento local aprovou uma reforma criminal, ao menos 31 opositores ao governo de Ortega já foram presos na Nicarágua. Com as novas regras, as autoridades podem prender, por até 90 dias, pessoas investigadas por um crime. Antes, o prazo era de três dias para apurar, prender e formalizar as denúncias.
No início deste mês, o Conselho Supremo Eleitoral (CSE) local inabilitou o partido de direita Cidadãos pela Liberdade (CxL), que lidera uma aliança opositora contra a reeleição de Ortega.
No final de julho, o Parlamento local também fechou 24 ONGs críticas à gestão do governo durante a pandemia do novo coronavírus. As organizações foram acusadas de violar regras de funcionamento.
O governo nicaraguense tem se tornado cada vez mais isolado no cenário internacional. No início de agosto, a União Europeia anunciou uma série de sanções contra a primeira-dama e vice-presidente Rosario Murillo e seu filho Juan Carlos por responsabilidade em "graves violações dos direitos humanos" no país. (Com agências internacionais).