Embora a maioria dos estudos internacionais que chegam ao Brasil sejam desenvolvidos por laboratórios farmacêuticos ou cientistas estrangeiros, em pelo menos um caso de testes de medicamentos para covid, brasileiros conseguiram inverter essa lógica.
Pesquisadores do Hospital do Coração (HCor) idealizaram uma pesquisa de um possível tratamento para covid que conseguiu financiamento de uma empresa americana. "Esse medicamento ainda não tem um nome comercial, mas é conhecido pelo mecanismo de ação chamado de antisenso. É uma cadeia de RNA que bloqueia outra, impedindo a produção de algumas proteínas. No caso do nosso estudo, a ideia seria bloquear a calicreína para reduzir o risco de inflamação e edema (acúmulo de líquido) pulmonar que agrava o quadro", explica o intensivista Fernando Zampieri, pesquisador do HCor e investigador principal do estudo.
O mecanismo antisenso já é usado em outros medicamentos com indicações diversas desenvolvidos por uma empresa de biotecnologia americana chamada Ionis, especializada em terapias direcionadas ao RNA, como um medicamento usado no tratamento da Atrofia Muscular Espinhal (AME). A empresa é a financiadora da pesquisa do HCor.
"Desenhamos o estudo e fomos atrás de quem poderia se interessar. Como a Ionis já produz essa classe de medicamentos, procuramos a empresa. A diferença é que, como o protocolo é nosso, os bancos de dados gerados pelo estudo e as análises dos resultados são feitos por nós, uma instituição acadêmica, e não pela indústria farmacêutica", destaca Zampieri.
O estudo inicial, de fase 2, será feito com 90 pacientes. Ele já recebeu o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e deverá iniciar o recrutamento dos pacientes nas próximas semanas.