Lancheiras de personagens, cartinhas escritas à mão, folha pautada, borrachas coloridas e cheirosas, canetas com glitter e cheirinho de frutas… nas décadas passadas, a troca de figurinhas era “à moda cringe”, nada de WhatsApp… a diversão era colecionar cartelas de adesivos para trocar no recreio da escola.
A expectativa de iniciar um novo ano letivo e conhecer os novos professores e a nova turma; o cântico obrigatório do Hino Nacional antes de começar a aula; os aniversários comemorados com os colegas e professores. Com o passar dos anos, novas tendências surgiram, novos gostos, manias e sensações começaram a ser vivenciados, mas sempre há em todas essas situações uma coisa em comum: o ambiente escolar que marcou diferentes gerações que guardam boas lembranças da época escolar.
O psicólogo Sérgio Manzione, 60 anos, conta com carinho uma lembrança de 45 anos atrás: “Ao corrigir as redações, nosso professor de Português não aguentava mais ler o mesmo erro: ‘derepente’ escrito tudo junto. Na sala de aula, uma parede toda era o quadro negro, e um dia o professor, meio enfurecido, resolveu acabar com o erro recorrente dos alunos. Subiu em uma cadeira e escreveu no canto esquerdo superior da lousa o ‘de’, arrastou a cadeira até o canto superior direito e escreveu ‘repente’. Nunca mais ninguém escreveu errado. Agradeço ao professor Luiz Antônio, onde ele estiver, por nos ensinar a escrever certo, e jamais errar frases como mim está aqui ou ele estar em casa. A escola também nos ensina a ler, a interpretar o mundo e a pensar sobre nossas vidas”.
A mestre em Desenvolvimento Humano, Andrea Monteiro, 54 anos, relembra com bom-humor de quando cortou a alça da lancheira de uma colega, quando tinha por volta dos 6 anos de idade. “Olívia era uma amiga que dividia carteira (mesa) comigo na época de escola. Um dia ela chegou com uma merendeira nova e meus olhos brilharam, achei linda! Eu tinha acabado de ganhar uma tesoura de cortar papel. Tive a ideia de cortar a alça da merendeira da Olívia. Quando ela se deparou com a merendeira foi um chororô. Então, a professora começou a investigar na sala quem foi que fez aquilo. Nunca iam desconfiar de mim porque eu era quieta, não fazia bagunça, então a professora culpou o menino mais levado da turma – e eu deixei ele ser castigado. No dia seguinte a Olívia apareceu com a merendeira dela com a alça cheia de durex. Na época, eu não tinha consciência do meu ato errado, hoje enxergo a covardia, inveja. Essa história me traz a lição de como a escola é importante para ensinar a viver em coletividade, a aprender a lidar como nossos sentimentos”.
O analista de sistemas Érico Ribeiro, 43 anos, diz que uma das lembranças que tem dessa época é de uma festa de São João na escola, quando ele tinha 3 anos. “Na minha visão, eu estava vestido de cowboy. A pró formou os casais para uma quadrilha e foi um completo desastre. Na verdade, foi bem divertido e os pais amaram. Caramba, a lembrança já completou 40 anos!”, rememora surpreso.
A professora Lígia Pimenta possui mais de 15 anos de experiência em sala de aula e relembra, emocionada, o abraço recebido de uma das suas alunas. “Esse abraço que ela me deu eu não entendi. Ela olhou para mim e disse que era o abraço que gostaria de dar na mãe, mas não conseguia. Na época eu era muito menina, tinha iniciado minha carreira e me arrependo de não ter tido o contato dessa família para eu contactar a mãe dessa jovem para que ela desse o abraço. Ali aprendi que dentro da sala de aula a gente não transmite só conhecimento, nós somos vistos também como inspiração. Passei a ser mais carinhosa e cuidadosa”, reflete.
A Gerente Nacional de Operações Viviane Torres lembra com gratidão de um momento ocorrido há quase 30 anos, mas que transcende o tempo. “Uma lembrança especial que tenho é da professora Elsa, que ensinava Português e Redação. Ela despertou em mim o amor pela escrita e me incentivou bastante. Em um dos concursos literários do colégio, me apoiou e incentivou a me inscrever, e eu ganhei o concurso. Toda essa motivação foi decisiva para que anos depois eu me formasse em Letras e continuasse a escrever”.
A professora Carol Silveira, 31 anos, conta que passava mais tempo na escola do que em casa e diz amar as lembranças dessa época. “Eu gostava das apresentações de trabalho, minha memória gira em torno disso. Eu era líder, mas brigava com todo mundo na época de fazer trabalhos, depois todo mundo me agradecia porque eles tiravam nota alta. Hoje sou professora de Língua Portuguesa e fui a vida inteira uma aluna com muita dificuldade em Física, Química, e quase sempre eu ia para recuperação de Matemática e Biologia. Em Física eu conseguia passar porque descobri o livro de onde o professor tirava as questões, então eu via tudo antes das provas. Eu era uma aluna muito conversadeira, recebia muitas reclamações dos meus professores e nunca imaginei que seria professora”, relata a docente.
O designer André Zan Rocha, 25 anos, tem na memória a expectativa que sentia no início de cada ano letivo para conhecer os rostinhos novos e os antigos que se mantiveram na sua turma: “Todo início de ano eu esperava para ver cada colega entrando pela porta da sala como se fossem participantes do BBB (Big Brother Brasil) entrando um a um (risos). Lembro das aulas de artes em que eu podia rabiscar o que queria e me içou para a profissão que tenho hoje”, relembra.