Estadão

No Dia do Meio Ambiente, livros ajudam a conscientizar pais e crianças

O escritor americano Jonathan Safran Foer, que em sua não ficção tem se dedicado a questões ambientais, diz em seu mais recente livro, Nós Somos o Clima (Rocco), que vamos ter vergonha dos nossos filhos, netos e bisnetos pela forma como escolhemos viver. Não que o meio ambiente não esteja entre as nossas preocupações. Ele está, e a cada geração há avanços. Mas este é um problema abstrato, ele diz, e apesar de sermos bombardeados com informações científicas alarmantes, isso não desencadeia, de fato, uma mudança de hábito. Mas talvez isso não se aplique à nova geração.

O escritor e ilustrador Fernando Vilela é otimista. "As crianças de hoje podem mudar o mundo e reinventar o futuro. Essa geração já nasceu com uma outra cabeça de sustentabilidade e tem um engajamento enorme", diz – e conta que hoje aprende mais com os filhos do que o inverso. Eles estão na casa dos 20, e não comem carne pelo mesmo motivo que Safran Foer destaca em seu livro (ele diz que se as vacas fossem um país, elas estariam atrás apenas da China e dos Estados Unidos na emissão de gases de efeito estufa).

Fernando Vilela está lançando com o escritor e arquiteto Michel Gorski o livro Além da Chuva (FTD). É a história do reencontro entre dois amigos, um jornalista e um cientista, em 2035, em uma São Paulo verde e sustentável, completamente diferente daquela de 2010, quando uma forte chuva inundou, mais uma vez, tudo. Naquele ano, os dois e outros amigos da escola resolveram se reunir durante as férias para pensar soluções para a cidade. A chuva, que é uma coisa boa, não devia causar tanta destruição. Juntos, e ouvindo as histórias da avó de um deles, eles projetam um prédio aquário, um carro-piscininha, calçadas e telhados de hortas e por aí vai.

"O que tentamos mostrar é a questão da pequena escala. É na pequena escala, no posicionamento pessoal, no entendimento de que você pode fazer alguma coisa, e que isso terá um valor, que as coisas começam a mudar", comenta Gorski, que teve a ideia do livro. Vilela completa: "Essa pequena escala hoje pode, no dia seguinte, virar uma grande escala. Basta ver os fãs de K-pop, que conseguiram esvaziar o comício de Donald Trump, que deveria ter 180 mil pessoas. Basta pensar que foi um moleque que criou o Facebook na universidade e que em 10 anos se tornou bilionário com uma rede que potencializa a comunicação das pessoas, mas que só está a serviço do entretenimento e da relação afetiva, sem preocupação com política nenhuma. Mas se tivesse alguém com a cabeça dos nossos personagens que fizesse uma rede dessas poderia ser interessante, porque acredito nessa potencialidade inventora e de ação da pequena escala".

A literatura infantil tem se ocupado da questão do meio ambiente. Assim como Além da Chuva, outros livros estão sendo lançados – e não apenas agora, por causa do Dia do Meio Ambiente. São leituras com potencial de entrada nas escolas, mas que também ajudam a iniciar uma conversa com as crianças em casa (ou, em última análise, ensinam algo também aos pais).

A Moderna está lançando Plástico: Seu Passado, Presente e Futuro, da sul-coreana Eun-joo Kim, que estudou física e educação infantil, com ilustrações de Ji-won Lee. O livro, para crianças do Ensino Fundamental 1, faz um alerta (usamos nada menos do que 300 milhões de toneladas de plástico por ano) e apresenta o ciclo de vida do produto.

A Companhia das Letrinhas tem dois belos lançamentos sobre o tema. Para pequenos leitores, A Floresta, livro-imagem da ilustradora amazonense Irena Freitas, mostra uma menina diante das notícias sobre as queimadas na Amazônia e sua jornada, a partir daí, para transformar sua casa em um lugar mais agradável. "O caminho dela é o caminho que todos nós fazemos, em algum ponto da nossa vida, quando começamos a observar o ambiente e pensamos nas pequenas mudanças que podemos fazer para melhorar o lugar", diz a artista de 29 anos. Sobre o desmatamento e seus efeitos, vale também a leitura de O Corte e a Chama / A Chama e o Corte, com dois poemas narrativos de Leo Cunha ilustrados por Paulo Rea, lançado pela Pulo do Gato no ano passado. "O gado pede mais pasto / A lavoura, mais espaço / O homem, poder", diz o autor a certa altura.

O outro lançamento da Companhia das Letrinhas é O Quintal da Minha Casa, de Fernando Nuno com ilustrações de Bruno Nunes. O autor apresenta aos leitores todos os seres vivos e imaginários que habitam o nosso quintal, até que alguém começa a mexer nele e tudo desanda. Há esperança, no fim – quando o narrador descobre que, como ele, há mais gente preocupada com a natureza e que juntos será possível fazer algo.

"As crianças de hoje vão receber das gerações anteriores um mundo em condições bem difíceis. Elas se tornarão adultos que terão muito trabalho para melhorar o planeta, mas grande parte delas já está ganhando, enquanto cresce, a consciência da situação e de que é preciso aprender o que algumas pessoas já fizeram nesse sentido e criar novas ideias e técnicas", diz Nuno.

O principal, ele completa, é se familiarizar com o mundo da natureza, ter contato com ela de todas as formas, desde o abraçar de uma árvore ao plantio de uma semente – e também lendo. "Livros como O Quintal da Minha Casa têm essa função, de ajudar nessa consciência. O trabalho para resgatar o que já se perdeu, o que já foi queimado, o que está em extinção, será árduo. Iniciativas individuais são importantíssimas.

Além disso, muitos tipos de trabalhos se desenvolvem coletivamente mundo afora. O conjunto desses esforços, individuais e coletivos, é que fará a diferença para que as futuras gerações tenham um planeta saudável onde viver com bem-estar, onde seja gostoso estar e brincar."

SERVIÇO

ALÉM DA CHUVA
Autores: Michel Gorski eFernando Vilela
Editora: FTD
(48 págs.; R$ 49)

PLÁSTICO
Autora: Eun-joo Kim
Ilustração: Ji-won Lee
Editora: Moderna
(40 págs.; R$ 50)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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