Após três pregões consecutivos de alta, o dólar à vista recuou na sessão desta segunda-feira (7) e voltou a trabalhar abaixo da casa de R$ 5,30. Em trajetória descendente desde a manhã, em linha com o sinal predominante de baixa da moeda americana frente a divisas emergentes e ligadas a commodities, o dólar acelerou as perdas ao longo da tarde e desceu até a linha de R$ 5,25 na reta final dos negócios, fechando no menor patamar desde meados de setembro de 2021.
Além da maré positiva para emergentes, que ganhou mais corpo na etapa vespertina, operadores atribuíram a baixa mais expressiva do dólar por aqui a fluxos pontuais de recursos externos, em especial para renda fixa, e a ajustes de posições no mercado futuro, que trabalhou com liquidez bastante reduzida (contrato de dólar para vencimento em março girou menos de US$ 10 bilhões).
O apetite mais reduzido por negócios revela certa cautela diante da agenda carregada aqui e no exterior: ata do Copom nesta terça (8), IPCA de janeiro na quarta-feira (9) e índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos na quinta-feira (10). Nas mesas de operação, comenta-se que há certo receio também em torno das PECs dos combustíveis apresentadas na Câmara dos Deputados e no Senado, embora o provável aumento do risco fiscal ainda não seja fato preponderante na formação da taxa de câmbio.
Com variação de cerca de sete centavos entre a máxima (R$ 5,3229) e a mínima (R$ 5,2507), o dólar à vista encerrou o pregão em queda de 1,26%, a R$ 5,2547 – menor valor desde 15 de setembro do ano passado (R$ 5,2495). Depois de fechar janeiro com desvalorização de 4,84%, a divisa acumula baixa de 0,96% neste mês e já perde 5,76% em 2022.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – experimentou algumas trocas de sinal e operava com viés, na casa dos 95,400 pontos, apesar dos ganhos em relação ao Euro. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou hoje, em discurso no parlamento europeu, que a inflação deve seguir elevada no curto prazo, mas que, no longo prazo, é consistente com a expectativa da instituição.
Entre emissões corporativas em andamento, fontes ouvidas pelo <i>Broadcast</i> informaram que a Usina Coruripe captou US$ 300 milhões no mercado de dívida externa, com a emissão de bonds de cinco anos. Os bonds, que tem opção de recompra em três anos, ofereceram retorno ao investidor de 10%.
Para o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, a performance do real só pode ser explicada por algum fluxo mais forte de entrada de recursos ao longo da tarde ou desmonte de operação comprada (que ganha com o avanço da moeda americana) no mercado futuro. "Com essa questão da PEC dos Combustíveis, não era para o dólar estar caindo tanto aqui hoje. O real está muito melhor que outros emergentes. Vejo esse movimento como algo pontual", diz.
Hideaki Iha observa que a possibilidade de nova rodada de apreciação do real parece menor, uma vez que grande parte das posições compradas em dólar já foram desmontadas e, com a taxa de câmbio nos níveis atuais, é recomendável manter algum nível de hedge (proteção) cambial. "Um estresse maior lá fora ou com essas medidas populistas do governo pode fazer o dólar subir de novo", diz o operador da Fair. "Ficar comprado com o dólar a R$ 5,50 ou R$ 5,60 com esse juro real alto era uma coisa. Mas com o dólar na casa de R$ 5,30, já dá pra pensar em montar uma posição".
O head de câmbio da Valor Investimentos, Fernando Giavarina, observa que, mesmo com a possível redução do ritmo de alta da Selic, sinalizada pelo Copom em seu comunicado na semana passada, o Brasil vai continuar a ter um juro real muito atrativo. "A expectativa é que a ata confirme que a próxima alta dos juros será menor. O mercado acredita que a Selic pode chegar a algo entre 11,75% e 12,25% até o fim do ciclo de aperto. Mesmo com a subida de juros nos EUA, o diferencial de juros vai continuar bem elevado", diz Giavarina, que vê possibilidade de queda adicional do dólar, embora a taxa já esteja perto de R$ 5,00 e o quadro fiscal seja preocupante.
A economista-chefe da Coface para América Latina, Patrícia Krause, trabalha com cenário-base de elevação da Selic em 1 ponto porcentual em março, para 11,75%, e em 0,50 ponto em maio, alcançando 12,25%. "A ata do Copom deve trazer uma recalibragem no tom do comunicado. O Banco Central já sinalizou o ritmo de aperto monetário. Mas ele deve mostrar também a importância do controle das expectativas de inflação", diz Patrícia.
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, espera que o BC, após acenar com diminuição do ritmo de elevação da Selic, mostre qual vai ser seu "plano de pouso", ou seja, como vai chegar até o fim do ciclo. "O Congresso retomou os trabalhos e essa questão fiscal pode elevar a percepção de risco do mercado. Isso pode dificultar a tarefa do BC", diz Camila, que vê possibilidade de o Copom encerrar o processo de alta da Selic sem conseguir pôr as expectativas de inflação na trajetória da meta.