Estadão

No início da Assembleia-Geral da ONU, Guterres defende reforma no Conselho de Segurança

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, realizou uma defesa contundente do multilateralismo, em seu discurso no início da Assembleia-Geral da entidade, em Nova York. Antes que os líderes globais iniciassem suas falas, o português defendeu nesta terça-feira, 19, que as instituições atuais possam refletir de fato como o mundo é hoje, e afirmou que é preciso renovar o Conselho de Segurança, órgão máximo de decisão da ONU.

A reforma do Conselho de Segurança é uma bandeira histórica brasileira, que o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva busca reavivar. Atualmente, China, Estados Unidos, Reino Unido, França e Rússia são os membros permanentes, com direito a veto, e outros dez países ocupam cargos rotativos, com mandatos de dois anos e sem veto. O Brasil busca cadeira permanente em uma versão reformada do conselho.

Guterres exaltou a multipolaridade, mas admitiu que ela sozinha "não pode garantir a paz". Em seu discurso, ele fez várias referência a situações de conflito, como na Ucrânia, e também dos impactos causados por eventos extremos do clima. O secretário-geral mencionou enchentes recentes na Líbia, qualificando-as como "um instantâneo do nosso mundo", em um quadro de desigualdade e injustiças, além de "incapacidade de confrontar os problemas".

Na avaliação de Guterres, "estamos caminhando rapidamente para um mundo multipolar, o que em muitos aspectos é positivo". Mas isso não necessariamente levará ao sucesso global, advertiu. A autoridade defendeu a necessidade de se realizar compromissos globais.

Sobre a guerra na Ucrânia, notou que ela tem implicações globais. Guterres disse ser necessário manter o trabalho pela paz, bem como meios para reduzir sofrimento dos civis "na Ucrânia e em outros lugares". "Não desistirei do esforço por acordo para escoar alimentos da Ucrânia e da Rússia", afirmou Guterres. Os dois países chegaram a ter um acordo para escoar grãos, mas posteriormente Moscou se retirou dele, gerando incerteza sobre o tema.

<b>Clima e inteligência artificial</b>

Em vários momentos, Guterres alertou para os riscos trazidos pelas mudanças climáticas, com mais eventos extremos que deixam vítimas. "A mudança climática está afetando todos os aspectos de nosso trabalho" e também "está matando pessoas", insistiu, ao pedir medidas "agora" para redução nas emissões de gases estufa e de compensação aos afetados. "Chega de soluções falsas em relação às mudanças climáticas", afirmou, e pediu que não se espere mais "que os outros ajam primeiro" para só então outros países avançarem no tema.

Guterres ainda falou sobre riscos potenciais pelo uso de inteligência artificial generativa. Ele destacou o fato de que os próprios criadores desse tipo de tecnologia têm afirma que é necessário haver regulação sobre seu uso. E mencionou riscos como de que o uso de IA generativa acabe por minar a democracia, com por exemplo a coleta de dados sendo usada para amparar abusos aos direitos humanos.

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