Candidatos radicais de esquerda e direita se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais chilenas, na disputa mais imprevisível desde a redemocratização do país, em 1990. Com todas as urnas apuradas, o ultradireitista José Antonio Kast, de 55 anos, do Partido Republicano, teve 27,9% dos votos.
O deputado de esquerda Gabriel Boric, de 35 anos, do Convergência Social, teve 25,83%. A diferença entre os dois foi de 146.313 votos – uma das menores da história eleitoral chilena.
Kast, um admirador da ditadura de Augusto Pinochet, que durou de 1973 até 1990, apostou suas fichas em um discurso de retomada da "ordem, segurança e liberdade", após a violenta revolta popular enfrentada pelo atual presidente, Sebastián Piñera, em outubro de 2019.
Ele propõe uma "batalha cultural, ideológica e programática para retomar o caminho da verdadeira dignidade humana e o desenvolvimento", inspirada pelo que chama de "trinômio República-liberdade-família". Defende o fim da agenda de gênero (em 2017, num tuíte, criticou um suposto "lobby gay") e subsídios familiares apenas para casais legalmente unidos.
Boric, por sua vez, passou a campanha pregando uma mudança no modelo econômico liberal e defendendo bandeiras da esquerda radical, como um novo sistema de aposentadorias que assegure um valor mínimo de 250 mil pesos para todos os maiores de 65 anos, salário mínimo de 500 mil pesos até 2025, 500 mil novos empregos para mulheres e jornada de trabalho de 40 horas semanais. Nas questões de gênero, o deputado defende criminalização da violência contra mulheres, legalização do aborto e plano de direitos sociais LGBT.
O segundo turno acontece em 19 de dezembro, e o resultado é imprevisível. Pela primeira vez desde a redemocratização do Chile os partidos que governaram o país até hoje não estarão na disputa.