Entre as novelas exibidas atualmente (na verdade, reexibidas), é certo que Êta Mundo Bom!, de Walcyr Carrasco, com direção de Jorge Fernando, tem feito bonito na faixa do Vale a Pena Ver de Novo, da Globo. Ambientada nos anos 1940, conta a história de Candinho (Sérgio Guizé) que, ao nascer, foi separado de sua mãe e acabou criado pelo ambicioso casal Cunegundes (Elizabeth Savalla) e Quinzinho (Ary Fontoura), donos da decadente fazenda Dom Pedro II, no interior de São Paulo. Aliás, a cada capítulo, essa turma de caipiras atrapalhados faz mais sucesso.
Esses personagens têm suas histórias entrelaçadas, tendo como pilar a trajetória de Candinho que, no momento atual da novela, já encontrou sua mãe, a rica Anastácia (Eliane Giardini). Dentro dessa trama familiar, com elenco de nomes que já deixaram sua marca na telenovela, uma outra história é contada em uma radionovela. Para quem não sabe do que se trata, radionovela é a antecessora das novelas de TV que conhecemos, nasceu em uma época em que o rádio imperava.
Pois bem, Herança de Ódio é encenada durante a novela Êta Mundo Bom! e, por diversas vezes, surge um personagem ouvindo a história, como a tia Eponina (Rosi Campos), que sofre com a trama. A radionovela conta o drama de um homem que precisa defender sua família em nome da honra. E a protagonista é Cristina, interpretada pela atriz Olímpia Castelar, vivida por Rosane Gofman, que respondeu a algumas perguntas sobre sua participar nesse folhetim.
<b>Como é viver essa atriz de radionovela, que ninguém sabe como é e fica tentando adivinhar? Dá para sentir um pouco do que esse profissionais sentiam?</b>
Devia ser muito maneiro isso, né! Das pessoas não saberem quem é. Acho que dá para sentir um pouco o que esses profissionais sentiam, porque ela fingia que era outra coisa. E esse era o lado engraçado da personagem. É muito bom, dá para sentir, sim, e quem sabe fazer de novo a radionovela.
<b>Você se diverte com a personagem? </b>
Ah! Super, né? Era muito divertido fazer aquela radionovela. A maioria do elenco da radionovela era de dubladores, então, havia uns momentos bem engraçados. Eles até me ensinavam um pouco sobre imaginar um personagem só pela voz. Não é fácil, mas é muito divertido.
<b>Radionovela tinha de ter uma história com suspense, que deixasse o ouvinte aguardando o próximo capítulo. Então, o texto é muito importante, mas a encenação exige mais vigor, ou não?</b>
Sempre tinha um suspense. Tinha até uma frase: "Heraaaannnça de Ódio". A gente vivia falando isso (risos). Acredito que a rádio também exija um vigor. Na novela, era diferente, porque a gente aparecia fazendo, então, além da voz, também tínhamos de ter esse plus, que era a maneira de interpretar esses personagens. Era muito legal de fazer.
<b>O ator de radionovela precisava de algum preparo diferente do de uma novela?</b>
Não é da minha época, mas acredito que precisasse de um outro preparo, que era só o da voz. Na radionovela, você precisa prender o público somente com a sua voz e eu acho isso muito bacana. Depois, quando a novela passou a ser ao vivo e com imagens, também deve ter sido muito difícil, porque antes só existia a radionovela. Com o vídeo, o ator começa a aparecer e precisa dar vida ao personagem. E deve ter sido ainda mais difícil com as novelas ao vivo. Essas mudanças são complicadas. Por exemplo, eu fiz oito anos de teatro antes de entrar para a televisão, em 1983. Eu lembro que o Wolf Maia, que foi o meu primeiro diretor, me pedia para diminuir meus gestos. Era muito grande (risos).
Como é estar em duas tramas, afinal, além da radionovela, você também está na novela?
Então, acabou que as pessoas descobriram quem era a mulher que fazia aquele personagem e isso virou um pouco uma chacota (risos). Na radionovela, a personagem dela se acha, se coloca como aquela mulher magrinha, bonitinha e tal. E as pessoas descobrem que ela não era daquele jeito. Os personagens eram completamente diferentes.
<b>Vocês tentavam fazer como era mesmo antigamente, como era encenada a radionovela? </b>
Sim! Antes de gravar, dei uma procurada para saber como funcionava. Antigamente, era muito diferente. A gente viu alguns filmes para entender melhor como aquilo tudo funcionava. E o nosso diretor também fez o mesmo. Nós éramos dirigidos principalmente pelo Diego Moraes, e ele sabia exatamente o que a gente tinha que fazer.
<b>Acha que radionovela teria chance de voltar? Parece um pouco com um podcast, não é?</b>
Parece, sim, com o podcast. Acho que pode voltar. Aliás, o meu marido, séculos antes da novela, já falava que eu tinha que voltar a fazer radionovela, que hoje em dia seria uma novidade, porque já se passou muito tempo. As pessoas que não tiveram a oportunidade de ouvir e de saber como funcionava talvez ficassem curiosas, assim como ficam assistindo à novela.
<b>É interessante ter a radionovela no ar, pois mostra como era esse período, muita gente não tem noção dessa forma de arte, não acha?</b>
Sim, muita gente não tem. Mas também acho que muitas coisas são cíclicas, elas vão e voltam. Na moda, por exemplo, volta e meia retornam coisas que eram antigas, mas que são lançadas de outra forma. É novidade para algumas pessoas que não vivenciaram aquilo e não conhecem aquelas roupas. É a mesma coisa com a radionovela: muita gente não sabe como funciona. As coisas retornam, muitas vezes com sucesso, com novidade. E, hoje em dia, estamos mesmo é precisando de novidades nesta pandemia, né? Foi muito bom ter feito Etâ Mundo Bom! Eu gosto demais do que o Walcyr escreve e já fiz algumas novelas dele. Aliás, no canal Viva, está passando Chocolate com Pimenta, que também amei fazer!
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>